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Rafael Reis

1º técnico negro na Ucrânia, brasileiro faz história, mas dura só 4 jogos

Rafael Reis

18/08/2018 04h00

Gilmar Tadeu fez história na Ucrânia. Em um país de população quase que integralmente de pele clara e marcado por episódios de racismo (até mesmo dentro de campo), o brasileiro foi o primeiro técnico negro na história do futebol local.

Mas a experiência durou pouco. Apenas 40 dias e quatro partidas oficiais (uma vitória, um empate e duas derrotas) pelo FC Lviv, time que subiu da segunda para a primeira divisão nesta temporada.

Na última quarta-feira, Tadeu foi avisado pela Liga Ucraniana que precisaria deixar o cargo por ainda não ter concluído o último nível do curso de treinadores da Uefa, um pré-requisito para atuar na elite do país.

O estafe do treinador ficou surpreso com o fato de a notificação não ter sido enviada logo no início da temporada, mas depois de quatro rodadas do Campeonato Ucraniano e em um momento em que o brasileiro estava "fazendo muito barulho".

O ex-atacante que começou a carreira como jogador na Portuguesa, atuou ao lado do pai de Neymar no União Mogi, na década de 1990, e já atuou como técnico na Arábia Saudita, em Macau e em divisões inferiores do futebol paulista, virou uma celebridade do futebol ucraniano nas últimas semanas devido ao seu feito histórico.

"São vários compromissos com a imprensa todo dia. Eles não param de falar do fato de eu ser o primeiro técnico negro por aqui. Estão usando isso de uma maneira positiva. Alguns repórteres até me disseram que, quando eu cheguei, parte da torcida estava com o pé atrás. Mas, agora, tudo mudou", disse, antes da saída do clube.

Só que a cor da pele, hoje um fator positivo para Tadeu na Ucrânia, já lhe causou rejeição e preconceito anteriormente no país.

Antes de virar treinador do FC Lviv, ele trabalhou entre 2010 e 2014 como auxiliar no Metarlug Zaporizhya e sofreu com o ódio racial.

"Não sou de levantar muitas bandeiras, mas aconteceu. No primeiro ano que eu estava aqui, os jogadores me falavam que eu só iria sentir o racismo quando começasse a entender o idioma. Foi o que aconteceu. Houve vários episódios em que ouvi pessoas me chamando de negro na rua".

"A Ucrânia é um país muito pobre, e quem trabalha com futebol acaba tendo uma condição um pouco melhor. Isso acaba chamando a atenção de algumas pessoas", afirmou.

Mesmo afastado do cargo do Lviv, Tadeu vai continuar morando na Ucrânia, já que é casado com uma local e possui cidadania ucraniana. Seu principal plano para o futuro é completar o curso da Uefa e retomar a carreira ainda antes do fim do ano.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.