No futebol, transexual joga no masculino e até fez parte de seleção
Jaiyah Saelua nasceu com órgão sexual masculino, cresceu como menino, mas jamais se identificou com esse gênero. Durante a adolescência, mudou seu corpo, abandonou seu nome de batismo, Johnny, e assumiu uma identidade feminina.
Apaixonada por esporte, encontrou espaço no futebol, após uma experiência frustrada no balé. Mas, ao contrário de Tiffany, transexual que se tornou a principal atração (e também a maior polêmica) da atual temporada da Superliga feminina de vôlei, no Brasil, decidiu competir entre os homens.
Saelua tem 1,88 metro, 29 anos e uma carreira no esporte mais popular do planeta. Ela é zagueira em Samoa Americana, um micro-país de 55 mil habitantes localizado no meio do Oceano Pacífico. E, durante quase uma década, fez parte da seleção que ocupa a 194ª colocação no ranking da Fifa.
A jogadora começou a se tornar conhecida fora de sua terra natal há sete anos, quando se tornou a primeira transexual a disputar uma partida das eliminatórias da Copa do Mundo – vitória por 2 a 1 sobre Tonga, a primeira em jogos oficiais na história do país.
A vida de Saelua mudou radicalmente desde então. A samoana viu sua história aparecer em um filme (o documentário "Next Goal Wins", lançado em 2014), deu entrevista para alguns dos principais veículos de imprensa do mundo, como o britânico "Guardian" e a canadense/norte-americana "Vice", foi convidada para integrar o júri de um prêmio em prol da diversidade criado pela Fifa em 2016 e virou advogada especializada em casos de discriminação.
A zagueira é uma "fa'afafine", minoria sexual considerada como uma espécie de "terceiro gênero" que faz parte da cultura e é aceita socialmente há muito na Polinésia, a região onde fica Samoa Americana. Até por isso, ela só conheceu o preconceito quando se mudou para o Havaí e tentou ingressar no time de futebol masculino da universidade onde estudava.
"Quando faltavam 15 minutos para o aquecimento, o técnico me chamou e avisou que teria de me mandar para casa porque não queria deixar os outros jogadores em situação desconfortável. Foi minha primeira grande experiência de discriminação", disse, ao "Guardian".
Sobre o papel de combatente pública do preconceito que exerce desde que foi "descoberta" pelo mundo do futebol, Saelua confessou que chegou a sentir um certo incômodo com a situação, mas admitiu que essa se tornou uma espécie de missão sua.
"Eu não estava realmente preparada para isso, então foi um pouco avassalador. Eu tive que fazer algumas pesquisas para ver como as pessoas percebem as pessoas transgêneros no esporte. Ainda há uma luta global contra a homofobia. E eu carrego uma bandeira que nem é tão conhecida, a do combate à transfobia."
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