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Rafael Reis

Ganhar o título foi difícil, fazer o Leicester virar grande será muito mais

Rafael Reis

02/05/2016 17h56

O Blackburn, até agora pouco a última grande zebra do Campeonato Inglês, está hoje na segunda divisão.  O La Coruña, o pequeno campeão mais recente do Espanhol, tenta evitar mais um rebaixamento. E o Montpellier, nanico campeão francês em 2012, nunca mais voltou para a Liga dos Campeões.

Os três casos citados acima mostram que o trabalho do Leicester, o surpreendente e já histórico campeão inglês desta temporada, está apenas começando.

Só o técnico Claudio Ranieri, os jogadores e os torcedores que esperaram 132 anos sabem quanto o inédito título conquistado nesta segunda-feira, com o empate por 2 a 2 entre Tottenham e Chelsea, foi difícil. Mas nem eles imaginam o quanto será complicado daqui para frente.

Para se tornar um clube verdadeiramente grande e não ter 2016 eternamente lembrado como um ano fora da curva, o Leicester terá de superar a história, suas limitações financeiras e a crença de que não se deve mexer em time que está ganhando.

Leicester

Com bem menos poderio econômico que os maiores clubes ingleses (apesar dos milhões que entrarão em seu caixa graças à Liga dos Campeões) e também sem tanto glamour quanto um Manchester United, Liverpool ou Arsenal, os Foxes certamente perderão alguns dos seus principais jogadores na próxima janela de transferências.

O argelino Riyad Mahrez, eleito o melhor jogador da Premier League, interessa a Barcelona, Real Madrid, Manchester United, Tottenham, Arsenal e PSG. O volante francês N'Giolo Kanté também está na lista de boa parte desses clubes.

E há ainda o artilheiro Jamie Vardy, o volante Daniel Drinkwater, o goleiro Kasper Schmeichel, o japonês Shinji Okazaki e até o capitão Wes Morgan, todos valorizados pelo "título impossível e desejados pelo mercado da bola.

Além disso, o Leicester já não terá mais o fator surpresa que tanto lhe ajudou no começo da temporada e deu o gás que ele necessitava para brigar na parte de cima da tabela. Quando os adversários entenderam o funcionamento da equipe azul, já era tarde.

Execrado na maior parte da carreira, o técnico Claudio Ranieri não virou gênio de uma hora para a outra. O italiano continua tendo suas limitações e é pouco provável que consiga montar uma nova equipe em que as peças se encaixem tão bem quanto nesta temporada.

Se quiserem se tornar grandes, o Leicester e Ranieri terão de aprender a atacar, e não só contragolpear. O campeão inglês será mais respeitado a partir de agora. Isso significa times menores jogando fechados contra eles e lhes dando pouco espaço para aplicar a velocidade que tanto gosta.

Isso significa então que o Leicester será uma Cinderela de uma temporada só e voltará a ser abóbora depois das férias de meio de ano?

Não necessariamente. Há sim caminhos para se engrandecer e virar umas das potências do futebol inglês. O Lyon não era um bilionário capaz de comprar tudo que quisesse em 2002, quando ganhou seu primeiro título francês.

O time passou por sucessivos desmanches e, mesmo assim, conseguiu construir uma hegemonia de sete anos no país. Apesar de não ser mais o clube número um da França, segue como um habitué da Liga dos Campeões.

O projeto deu certo porque o Lyon entendeu que mudanças eram essenciais e se planejou para elas. Montou uma ótima categoria de base e fez um grande trabalho de garimpagem em times menores para encontrar peças que pudessem repor as estrelas que fossem negociadas.

Também teve coragem de mexer no banco de reservas e levar ideias novas para dentro de campo. Seus sete títulos foram conquistados com quatro treinadores diferentes.

Ficam as dicas para o Leicester. E, a propósito, parabéns pelo merecidíssmo título. Que não seja o único!


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.