Conheça o brasileiro que tem a missão de fazer a China ganhar a Copa
Rafael Reis
16/07/2019 04h00
O brasileiro Fernando Sales sai diariamente de casa para trabalhar com dois objetivos em mente. O primeiro é fazer com que a China volte a disputar uma Copa do Mundo até 2030. O segundo, ainda mais ousado, é transformar o país em campeão mundial de futebol nas próximas décadas.
O treinador, que construiu sua carreira na Ásia e já trabalhou na Indonésia, em Laos, na Tailândia e em Mianmar, integra um projeto selado entre o governo chinês e a Nike para fazer com que a nação mais populosa do planeta se torne uma potência global até 2050.
A ideia, encabeçada pelo presidente Xi Jinping, um entusiasta da modalidade, é megalomaníaca, sim. A meta inicial é colocar 50 milhões de chineses para jogar bola até o ano que vem e distribuir pelo menos 50 mil escolinhas e 70 mil campos de futebol pelo país para criar uma nova geração de jogadores capazes de alavancar a seleção local rumo a voos mais altos.
Sales é uma das milhares de engrenagens envolvidas no projeto. Desde janeiro, ele dá aula de futebol na Universidade Normal de Anhui, em Wuhu, para jovens a partir de 16 nos que pretendem se tornar jogadores profissionais.
Nas últimas semanas, seu contrato ganhou um upgrade. Além de treinar os garotos, ele também passou a ministrar oficinas de formação para interessados em se tornarem técnicos de categorias de base.
"Acho que eles voltam para a Copa já em 2022 ou, no máximo, na seguinte. Mas o objetivo da China é ganhar a Copa. E, vou te falar uma coisa: se você pensar bem, o tamanho do passo necessário para sair do nada e disputar um Mundial é maior do que o necessário para ganhar a competição quando você já está nela," afirma.
"Já dá para falar que os chineses estão chegando no nível dos japoneses e sul-coreanos, que são os melhores da Ásia. Logo, eles já vão ultrapassá-los porque não têm medo nenhum de investir. Além disso, fisicamente, eles são os melhores da Ásia", completa.
Apesar do otimismo com o futuro do futebol chinês, Sales admite que ainda há um caminho longo pela frente para fazer da seleção que atualmente ocupa a 73ª colocação no ranking da Fifa uma candidata a ser campeã mundial. E a principal transformação tem de ser cultural.
"Na cabeça dos chineses, eles são bons. Mas, não é bem assim. Eles ainda estão bem crus: batem de forma desordenada na bola e não receberam a semente do passe. O problema é que são apresentados tarde e de forma errada ao futebol. Da noite para o dia, acham que podem virar um Messi ou Cristiano Ronaldo."
A China só disputou uma edição da Copa do Mundo até hoje. Em 2002, caiu no mesmo grupo do Brasil e foi eliminada com três derrotas (também perdeu para Costa Rica e Turquia), sem marcar um mísero gol.
Nas eliminatórias para a Rússia-2018, os orientais ficaram no quase. Eles terminaram a fase final do Grupo A do qualificatório asiático na quinta colocação, com 12 pontos e ficaram a apenas um ponto de disputar a repescagem.
Atualmente, a equipe é comandada pelo italiano Marcello Lippi, campeão com a Azzurra em 2006, que está abrindo o time para jogadores nascidos no exterior e também naturalizados –os brasileiros Elkeson e Ricardo Goulart vêm sendo apontados como possíveis futuros convocados.
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Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
Sobre o Blog
Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.