Para ex-Fla e Corinthians, companheiro gay de time é "grito de liberdade"
Rafael Reis
10/08/2018 04h00
Há pouco mais de um mês, o brasileiro Ibson (ex-Flamengo, Corinthians e Santos) e os outros jogadores do Minnesota United foram surpreendidos com a decisão de um dos seus companheiros de time, Collin Martin.
No final de junho, mês que se celebra o Orgulho LGBT, o meia de 23 anos decidiu tornar público para torcedores e jornalistas aquilo que já havia confidenciado para seus parceiros de equipe.
Com o gesto, Martin se tornou o único jogador profissional de futebol assumidamente homossexual em atividade na primeira divisão de uma liga nacional de alguma relevância – o também norte-americano Robbie Rogers, que defendeu o Los Angeles Galaxy entre 2013 e 2017, decidiu se aposentar no fim do ano passado.
"Foi admirável a postura dele, pois não era uma decisão fácil de ser tomada, ainda mais no mundo que vivemos, de tanto preconceito e discriminação. As pessoas precisam ser respeitadas. Encaro isso como uma libertação, um grito de liberdade mesmo. O Collin não vai deixar de ser quem ele é por ter revelado sua opção sexual. Agora, depois do anúncio, ele deve viver melhor até com ele mesmo", afirma Ibson.
O brasileiro atua ao lado do meio-campista nos EUA desde o começo de 2017 e diz jamais ter percebido dentro de campo alguma ofensa homofóbica contra o companheiro de time, nem antes, nem depois.
"Aqui sempre houve um respeito muito grande, não só por ele, mas por todos, como deve ser. E qualquer ato homofóbico, seja no futebol ou em qualquer outra área, deve ser repreendido."
Mas Ibson não tem tanta certeza assim que o mesmo aconteceria no Brasil. Até hoje, nenhum jogador brasileiro conhecido do mesmo grupo (em atividade ou já aposentado) assumiu ser homossexual.
"Já vivo aqui nos Estados Unidos há algum tempo e percebo que o americano tem mais compaixão, em todos os sentidos, não só com homossexuais. Existe mais respeito, o que não quer dizer que não há preconceito. É coisa de berço, de educação mesmo, de saber conviver em harmonia, de respeitar o outro. Amo o meu país, mas precisamos melhorar e evoluir em tudo."
Collin Martin começou a carreira nas categorias de base do DC United e estreou na MLS (Major League Socccer), a elite do futebol nos EUA, em 2013. Ele se transferiu para o Minnesota United na temporada passada.
O time de Ibson e Martin conta ainda com mais um brasileiro, o volante Maximiliano, emprestado pelo Fluminense. Na atual edição da MLS, a equipe ocupa a nona colocação da Conferência Oeste e está fora da zona de classificação para os playoffs.
"Somos todos iguais. Mas um caso como o do Collin faz as pessoas pensarem, refletirem e discutirem sobre o assunto, porque, infelizmente, o preconceito ainda é muito grande", completa o brasileiro.
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Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
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Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.