Queridinho de Guardiola sonha com Copa e Shakhtar na final da Champions
Rafael Reis
21/02/2018 04h00
Fred já caiu nas graças de Pep Guardiola. Mas, durante os próximos meses, o treinador que ele realmente deseja agradar é outro: Tite.
Aos 24 anos, o volante do Shakhtar Donetsk, que nesta quarta-feira (16h45 de Brasília) recebe a Roma no jogo de ida das oitavas de final da Liga dos Campeões da Europa, acredita que ainda tem chance de conquistar uma vaguinha na seleção brasileira que vai disputar a Copa do Mundo.
Seu caminho para a Rússia-2018, no entanto, poderia ter sido bem mais curto. O ex-jogador do Internacional passou cerca de um ano suspenso devido a um caso positivo de doping na Copa América de 2015 – foi suspenso devido ao uso da substância proibida hidroclorotiazida.
Mas desde que voltou aos gramados, Fred não tem muito do que reclamar. Na Inglaterra, sua transferência para o Manchester City é dada como certa para a próxima temporada. Ele também teve uma nova chance na seleção – foi convocado para a rodada final das eliminatórias, no ano passado, mas não entrou em campo.
O bom momento faz o jogador sonhar longe. Não apenas com a Copa do Mundo, mas também com uma final de Champions. E ele nem acha necessário esperar a transferência para o City para realizar o objetivo europeu.
"Seria um sonho chegar à final [com o Shakhtar], que este ano será justamente em Kiev [capital da Ucrânia]."
Confira abaixo a íntegra da entrevista com Fred:
Você já foi elogiado publicamente pelo Guardiola e é tratado na Inglaterra como futuro jogador do Manchester City. Como você encara esses elogios vindos de um dos maiores treinadores do planeta?
É claro que é sempre bom receber elogios. É sinal de reconhecimento, de que estamos fazendo um bom trabalho, de que estamos no caminho certo. Vindo de pessoas como o Guardiola, hoje um dos treinadores mais reconhecidos no mundo, é um orgulho. Faz com que a gente se motive ainda mais e continue fazendo o melhor em cada treino e em cada jogo. Nosso time fez uma grande apresentação diante do City pela Champions [vitória por 2 a 1, em dezembro, pela fase de grupos], o que acabou com uma invencibilidade de mais de 30 partidas deles e abriu os olhos de muita gente para a nossa equipe. Esperamos, agora, fazer outras boas exibições contra a Roma nas oitavas de final.
Você já conversou pessoalmente com o Guardiola? O que ele te disse?
Nós nos encontramos rapidamente depois daquele jogo. Ele elogiou a partida que eu fiz, eu agradeci e elogiei o time dele. Foi tudo muito rápido, nada além disso. Tudo em relação aos elogios que ele fez e ao suposto interesse do City fiquei sabendo pela imprensa. Procuro não me preocupar com isso. Deixo meus representantes cuidarem dessa parte. Meu foco é o Shakhtar, com o qual tenho contrato.
Você costuma ser bastante comparado ao Fernandinho. Além do fato de ele também ter jogado no Shakhtar, acha que vocês dois têm muito em comum?
Ser comparado a grandes jogadores é sempre uma honra. O Fernandinho foi um dos brasileiros que jogaram por mais tempo aqui no Shakhtar. Mas não tivemos a oportunidade de jogar juntos. Quando cheguei, em 2013, ele tinha acabado de sair. Só fomos nos encontrar na seleção brasileira. Eu jogo numa posição no meio mais à frente do que ele, que atua mais de primeiro volante. Ele é um pouco mais marcador e eu chego mais ao ataque. Trata-se de um grande jogador, merecidamente convocado para a seleção há alguns anos e já com uma Copa do Mundo na bagagem.
O Shakhtar é uma porta de entrada para jogadores brasileiros na Europa. Você acha que o seu momento de deixar a Ucrânia e ir para uma liga mais forte já chegou?
Eu procuro fazer o meu melhor todos os dias aqui. O futuro a Deus pertence. Se tiver que sair um dia, acontecerá naturalmente. Não me prendo muito a isso. Foi o Shakhtar que abriu as portas pra mim aqui na Europa e sou e sempre serei grato ao clube. Desde que cheguei recebo sondagens de outros grandes clubes europeus, mas nada de concreto. Como disse, tenho gente competente cuidando da minha carreira e deixo para eles resolverem.
Agora, vamos falar um pouco de Champions. Vocês vão enfrentar a Roma nas oitavas. Acha que, dentre as opções possíveis, vocês acabaram dando sorte no sorteio?
Não vejo dessa forma. Basta olhar todos os times que se classificaram para as oitavas de final. Só tem cachorro grande, todos de muita qualidade. A Roma é um dos grandes clubes da Europa, não teremos vida fácil. Tem tudo para ser um duelo muito bom e equilibrado. E eles ainda fazem o jogo de volta em casa. Teremos que nos impor no nosso estádio e buscar levar alguma vantagem pra Itália.
Até onde você acha que o Shakhtar pode ir na Champions?
Não sei. Temos que pensar jogo a jogo, como fizemos na primeira fase, em que muitos apostavam em Manchester City e Napoli, líder do Campeonato Italiano, e nós acabamos avançando, realizando boas partidas. Vencemos, inclusive, nossos três jogos em casa. Nossa equipe tem feito uma boa temporada e sabemos que podemos chegar mais longe. Mas é o que eu falei: temos que dar um passo de cada vez. Seria um sonho chegar à final, que esse ano será justamente em Kiev.
O Shakhtar voltou com tudo nesta temporada depois de dois anos que não foram tão bons assim. Qual o principal motivo dessa boa fase?
Não concordo que não tenham sido anos bons. Somos os atuais campeões nacionais, o que nos credenciou a voltar a disputar a Champions League, e vencemos as duas últimas edições da Copa da Ucrânia. Além disso, o nosso treinador (Paulo Fonseca) tem o grupo cada vez mais nas mãos e conseguiu dar a sua cara ao time. O elenco é muito bom e bem unido. Talvez esse seja o grande segredo.
Você acha que seu caso de doping te tirou a chance de disputar a Copa-2018? Acredita que suas chances de estar na seleção atualmente seriam maiores se você não tivesse ficado tanto tempo parado?
Sinceramente, não sei. Pode até ser, mas nunca parei pra pensar nisso. O que mais me deixou feliz, mesmo, foi ter voltado a jogar e a fazer o que mais gosto. Aquela fase passou, voltei a ser convocado para a seleção e farei de tudo para estar no grupo que defenderá o Brasil na Copa da Rússia. Todos têm chances até a divulgação da lista final. O professor Tite sempre foi coerente nas suas convocações e vai chamar quem estiver melhor. Portanto, todos nós temos que nos manter no mais alto nível físico e técnico para ser lembrado.
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Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
Sobre o Blog
Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.