Ainda não será desta vez que Copa terá jogadores gays assumidos. Que pena!
Rafael Reis
18/02/2018 04h00
Dentre os 736 jogadores que vão disputar a próxima Copa do Mundo, daqui a quatro meses, certamente alguns são homossexuais ou bissexuais. Mas os torcedores dificilmente saberão disso.
Em 88 anos de história, o Mundial masculino de futebol jamais teve um gay assumido em campo. E nada indica que essa situação irá mudar na Rússia-2018.
Isso não significa que os homossexuais não façam parte do mundo do esporte mais popular do planeta. Eles fazem, mas preferem continuar escondidos.
Há atletas gays em todos os níveis do futebol: nas peladas entre amigos, nas várzeas, nos clubes pequenos, nas equipes médias, nos times de repercussão mundial e, claro, nas seleções. Só que eles optam por não expor essa condição.
A prova disso foi dada por Thomas Hitzlsperger, um dos integrantes da seleção alemã que foi terceira colocada na Copa-2006. Meio-campista com passagem por Aston Villa, Stuttgart, Lazio, West Ham, Wolfsburg e Everton, ele tornou pública sua homossexualidade no início de 2014, logo depois de anunciar a aposentadoria.
Assim como Hitzlsperger, é bem possível que outros jogadores conhecidos do grande público, talvez até alguns convocados para o Mundial deste ano, esperem o adeus dos gramados para poderem viver publicamente suas condições sexuais.
O motivo desse medo de se expor é aquele velho combo que todo mundo está cansado de conhecer: o futebol ainda é um ambiente machista, cheio de torcedores preconceituosos que não aceitariam bem ter jogadores homossexuais assumidos nos seus times.
Ou seja, esconder a condição sexual do público é a forma encontrada por esses atletas de sobreviverem nesse meio. Revelar que é gay ainda é um risco para sua segurança e, principalmente, para sua carreira –será que um homossexual teria as mesmas oportunidades profissionais que um hétero?
É óbvio que ninguém é obrigado (e nem deve ser) a revelar sua orientação sexual. Se Neymar não precisa dizer que gosta de mulheres, é injusto cobrar de um jogador gay que anuncie a todos que curte outros homens.
Mas ações como essa fazem falta, muita falta. É uma questão de afirmação: quanto mais jogadores homossexuais assumirem essa condição, mais os garotos que jogam bola terão em quem se inspirar para fazerem o mesmo.
O futebol só deixará de ser um ambiente de preconceito e intolerância sexual quando a presença de homossexuais nesse meio for totalmente naturalizada. E para isso é preciso que os jogadores gays afirmem suas orientações sexuais.
Ainda não será desta vez que a Copa do Mundo terá homossexuais assumidos em campo. Que pena!
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Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
Sobre o Blog
Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.