Ameaçada, Itália usa 15 estrangeiros em uma década para conter decadência
Rafael Reis
10/11/2017 04h00
Ameaçada de ficar fora de uma Copa do Mundo pela primeira vez em 60 anos, a Itália virou uma fábrica de jogadores naturalizados para driblar a escassez de talentos locais e tentar estancar o processo de decadência de uma das seleções mais tradicionais do planeta.
Ao longo da última década, pelo menos 15 atletas nascidos no exterior apareceram em convocações da equipe tetracampeã mundial (1934, 1938, 1982 e 2006).
Dois deles (o volante Jorginho, do Napoli, e o atacante Éder, da Inter de Milão) fazem parte da convocação para o confronto contra a Suécia, nesta sexta-feira e na próxima segunda, pela repescagem das eliminatórias europeias, que definirá a presença ou a ausência italiana na Copa-2018.
Apesar de serem descendentes de italianos, ambos nasceram em Santa Catarina. O primeiro até chegou a conversar com integrantes da comissão técnica da seleção brasileira antes de aparecer na lista da Itália para a Data Fifa de novembro. Já o segundo defende a terra dos seus antepassados desde 2015 e acumula 25 partidas com a tradicional camisa azul.
Os brasileiros, como Jorginho e Éder, são maioria na lista de estrangeiros captados pela Itália desde 2007. Além dos dois jogadores já citados, outros cinco atletas nascidos no país pentacampeão mundial foram chamados pelos treinadores da Azzurra: o zagueiro Fabiano Santacroce, o lateral esquerdo Emerson Palmieri, os volantes Thiago Motta e Rômulo e o atacante Amauri.
A invasão brasileira na seleção italiana é reflexo do alto número de famílias originárias da Itália que vivem no Brasil, o que facilita (e muito) o processo de obtenção de uma nova cidadania a seus descendentes, e também a longa tradição de jogadores brasileiros atuando no Calcio.
Além dos brasileiros, atletas nascidos em pelo menos outros três países foram incorporados à Azzurra nesta última década: os argentinos Franco Vázquez, Gabriel Paletta, Ezequiel Schelotto, Pablo Daniel Osvaldo e Cristian Ledesma, o norte-americano Giuseppe Rossi e os alemães Nicola Sansone e Roberto Soriano.
A utilização de jogadores vindos do exterior não chega a ser uma novidade para a Itália. A seleção sempre se aproveitou do fato de ter colônias espalhadas por boa parte do mundo para reforçar sua equipe. O time campeão da Copa-1934, por exemplo, tinha atleta francês, argentino e até brasileiro (Anfilogino Guarisi, o Filó).
Esse processo voltou a se intensificar nos últimos anos, justamente quando o futebol italiano entrou em uma das piores fases de toda sua história.
Desde que conquistou seu último título mundial, em 2006, a Azzurra vem acumulando resultados bem aquém da sua tradição. Nas duas últimas Copas, em 2010 e 2014, não conseguiu passar da fase de grupos e venceu só um dos seis jogos que disputou.
Para piorar, não conseguiu a classificação direta para a Rússia-2018 e é a única das oito seleções que já faturaram a competição que terá de disputar a repescagem para não ficar fora da maior festa do futebol mundial.
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Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
Sobre o Blog
Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.