Clube belga monitora atividades (até sexuais) de jogadores e gera polêmica
Rafael Reis
30/10/2017 04h00
"Sinto-me como se estivesse preso. O clube fica sabendo até quando eu tenho alguma relação sexual. É um atentado contra a vida privada".
A declaração feita sob anonimato por um jogador do Genk ao jornal "Het Laatste Nieuws" mostra o nível de indignação do elenco com a inovação apresentada pela direção do clube três vezes campeão belga.
A pedido do técnico holandês Albert Stuivenberg, ex-auxiliar de Louis van Gaal no Manchester United, os atletas foram orientados a usar durante 24 horas por dia uma pulseira chamada "Whoop", que serve para monitoramento de atividades físicas.
De acordo com o clube, o dispositivo é uma "ferramenta de trabalho, que permite medir a frequência cardíaca, a recuperação e o sono, de modo a determinar a intensidade de cada treino individualmente."
A intenção de Stuivenberg pode até ter sido a melhor possível. Só que a indumentária tecnológica não caiu nas graças dos jogadores do Genk. O que aconteceu foi justamente o contrário.
A implantação da pulseira provocou um clima de revolta no elenco do time belga. Os atletas não gostaram nada da ideia de seu treinador e comissão técnica terem acesso detalhado a tudo aquilo que eles fazem fora de campo: o quanto dormem, o que comem, se consomem álcool e com que frequência têm atividades sexuais.
"Os criminosos usam uma tornozeleira eletrônica, e nós, uma pulseira", ironizou o jogador, que preferiu não se identificar ao jornal belga.
Já o meia Thomas Buffel, ex-Feyenoord e atual capitão do Genk, pronunciou-se publicamente contra o artefato e se recusou a usar o sistema de monitoramento de atividades.
"Não se pode obrigar um jogador a usar a pulseira. Ninguém pode ser punido por se negar a utilizá-la. Para estar dentro da lei, o clube precisa que os jogadores assinem um termo de consentimento por escrito, já que seus dados relativos à saúde são considerados protegidos", afirmou a porta-voz da Agência Belga para Proteção de Dados, Sarah Boulerhcha.
O Genk negou que esteja coagindo os jogadores a utilizar a "Whoop" e ressaltou que apenas os atletas que aderirem voluntariamente à medida terão seus dados coletados e analisados pela comissão técnica.
O clube também fez questão de frisar que sistemas como esse já são comuns em outros esportes, como natação e basquete, e foram usados por astros do porte de Michael Phelps e LeBron James.
Por fim, disse estar interessado apenas em coletar dados que ajudem a melhorar a saúde e maximizar a performance dos seus atletas, não em bisbilhotar a vida pessoal (e também sexual) deles.
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Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
Sobre o Blog
Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.