Sorriso, cantada e tradução: a vida da brasileira que trabalha no United
Rafael Reis
23/12/2016 06h00
Débora Barbosa já fez Ángel di María sorrir, recebeu cantada de Ander Herrera e está acostumada a bater papo com David de Gea, Antonio Valencia e Marcos Rojo.
A universitária brasileira de 21 anos, que deixou sua casa em Francisco Beltrão (PR) aos 15 para fazer um intercâmbio nos Estados Unidos e nunca mais voltou, trabalha em uma empresa de dar inveja a todos que gostam de futebol: o Manchester United.
A estudante de administração da Universidade de Salford faz parte do grupo de tradutores do maior campeão da história do futebol inglês.
É ela quem acompanha os jogadores espanhóis e sul-americanos em eventos para a comunidade, como visitas a hospitais e escolas. Além disso, Débora faz traduções para patrocinadores do United nos camarotes de Old Traffford durante as partidas.
"Conheço aquele estádio como a palma da minha mão", resume a estudante.
A paranaense foi parar no clube quase que por acaso. Filha de torcedor do Internacional e apaixonada por futebol desde a infância, ela se mudou para a Inglaterra a convite de uma intercambista tailandesa que conheceu nos EUA.
"No meu primeiro dia de faculdade, em 2013, fui até um painel de oportunidades de trabalho, e o escudo do United me chamou a atenção. Eles procuravam uma voluntária para ensinar as criancinhas da cidade a jogar futebol".
"Fui para a entrevista e falei que não jogava futebol desde a infância, mas que sabia alemão, espanhol, português e inglês. Então, me colocaram para trabalhar com crianças de Angola e começaram a me testar como tradutora", conta.
A maior parte do trabalho de Débora é voluntário (só recebe nos dias de jogos). Mas a estudante já recebeu a promessa de que será contratada assim que terminar a faculdade, em 2018. É por isso que não desiste do United… por isso, e também porque se diverte demais no trabalho.
"Na primeira vez que fui traduzir o Di María, a assessora veio me alertar que ele possivelmente seria grosso comigo. Mas assim que o cumprimentei em espanhol, ele abriu um sorriso e falou algo como 'até que enfim alguém que não fala inglês por aqui"', conta.
"Outra vez, fiz um evento com os jogadores espanhóis e o Ander Herrera deu em cima de mim. Eu estava traduzindo o De Gea, o Víctor Valdés chegou e me deu um beijo quando descobriu que eu era brasileira e o Herrera me chamou para jantar. Mas não aconteceu nada. Temos ordens para não nos aproximarmos dos jogadores do clube".
Depois de três anos com o United encravado em sua rotina, Débora já não se imagina mais vivendo fora do futebol. E faz planos ousados para o futuro. Ela quer, basicamente, fazer história.
"Nunca imaginei que trabalharia com futebol. Mas agora é minha paixão. Já disse para meu chefe que um dia serei a primeira chefe internacional do Manchester United. Todos são britânicos. Serei a primeira estrangeira a mandar lá", diverte-se.
E a tradutora também manda uma mensagem para quem, assim como ela, sonha alto.
"Nunca tive familiares ricos e aceitei trabalhar de graça. Qualquer um pode chegar onde quiser. Só é preciso correr atrás do sonho. Quero que as pessoas se sintam inspiradas com a minha história."
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Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
Sobre o Blog
Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.