Ele voltou ao futebol após tragédia e agora quer ver Ronaldinho na Chape
Rafael Reis
04/12/2016 06h00
"Imagina como seria lindo se Ronaldinho decidisse voltar a jogar e defendesse a Chapecoense. Isso ajudaria demais o clube a se levantar depois do que aconteceu e também seria uma forma de agradecimento por tudo que o futebol fez por ele."
"Quem sabe também não incentivaria outros jogadores aposentados a seguir o mesmo caminho e ajudar a Chapecoense? O Ronaldo ainda tem condições de jogar, o Roberto Carlos, também."
A sugestão não vem de um torcedor do clube ou de algum simpatizante agoniado com o acidente aéreo que matou 71 pessoas e dizimou o elenco da equipe catarinense. Mas sim de alguém já que fez exatamente aquilo que propõe agora a Ronaldinho.
Vice-artilheiro da Copa do Mundo de 1978 e maior jogador da história do Peru, Teófilo Cubillas encerrou sua carreira em abril de 1986. Um ano e meio depois da aposentadoria, uma tragédia com o avião que carregava o Alianza Lima matou 43 pessoas e vitimou o elenco do clube onde passou a maior parte de sua carreira.
"Eu conhecia todos os garotos que morreram naquela oportunidade, eles eram como meus filhos. Sofri muito com o que aconteceu. Tive também que fazer o reconhecimento dos corpos, cadáveres que ficaram cinco, seis, dez dias na água. Seis corpos nunca apareceram", disse, em entrevista por telefone.
O sofrimento e a comoção coletiva provocada pelo acidente mexeram com Cubillas, já um veterano de 38 anos. Sua tarefa no Alianza Lima ainda não havia acabado.
"Quando o presidente me convidou para voltar e ser técnico e jogador do time, nem pensei duas vezes. Eu tinha que aceitar. Foi incrível a recepção que tivemos. Todas as partidas com estádio lotado, dentro e fora de casa."
Por cerca de três meses, ou seja, até o fim do Campeonato Peruano, Cubillas, liderou, sem receber salários ou bonificações, uma equipe montada às pressas, do jeito que havia sido possível: quatro jogadores que haviam escapado do acidente por contusões e suspensões, outros quatro emprestados pelo Colo Colo (CHI), alguns ex-aposentados e outros garotos promovidos das categorias da base da noite para o dia.
O título nacional ficou no quase (foram derrotados por 1 a 0 pelo Universitario na decisão). Mas o principal, eles fizeram, honraram as vítimas do cidente aéreo e não deixaram o Alianza se afundar devido à tragédia.
"Todas as partidas eram emocionantes. Chorávamos muito nos vestiários antes de subir a campo. Mas, quando pisávamos no gramado, o carinho e o amor dos torcedores eram tão grandes que a gente esquecia tudo e nos desdobrávamos para honrá-los. Foram eles que nos deram força para seguir em frente", explica.
E é com base nessa experiência marcante em sua vida que o ídolo peruano sugere que Ronaldinho deixe de lado sua "aposentadoria" (desde setembro de 2015, quando deixou o Fluminense, só disputa amistosos e participa de eventos) para um ato de solidariedade pela Chapecoense.
"Quando soube o que aconteceu com eles, tudo que vivi voltou à minha mente. Fiquei muito mal, foi um dia horrível. Mas tenho certeza que a Chapecoense vai voltar, vai se reerguer. É em momentos assim que descobrimos que o fair play realmente existe", completa Cubillas.
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Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
Sobre o Blog
Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.