Só não tratem o ouro do futebol como o maior momento do Brasil na Olimpíada
Rafael Reis
20/08/2016 20h57
Quando Neymar acertou cobrança de falta no ângulo e colocou a seleção em vantagem contra a Alemanha, ouvi o barulho de rojões pela primeira vez nos Jogos Olímpicos.
Veio então uma constatação que me deixou triste: para a maior parte dos torcedores, o ouro do futebol masculino seria tratado como o momento mais importante do Brasil no Rio-2016.
É claro que a conquista inédita precisa ser celebrada (até por ter sido obtida ante os alemães). Mas não, ela não tem o mesmo valor dos feitos de Rafaela Silva, Thiago Braz, Martine Grael/Kahena Kunze, Alison/Bruno Schmidt e Isaquias Queiroz, o super-herói olímpico brasileiro.
A constatação não está ligada à tradição do país no futebol ou às polpudas contas bancárias dos jogadores da seleção, mas sim ao fato de a modalidade ter um dos mais baixos níveis técnicos da Olimpíada.
Ao contrário de judô, atletismo, vela, vôlei de praia, canoagem e da maior parte dos esportes, o futebol olímpico masculino não conta com a participação dos melhores atletas. Para falar a verdade, não teve no Rio nem os melhores sub-23.
São raras as modalidades com essa característica. O boxe, onde Robson Conceição também faturou um título inédito, é uma delas. Culpa do nosso pugilista? Claro que não. Mas seu ouro, assim como o do futebol, não lhe dá o status de melhor do mundo.
O Brasil é o novo campeão olímpico de futebol masculino porque foi o único país de primeiro escalão que levou a sério a competição. Ao contrário dos rivais, pode contar com praticamente todos seus melhores nomes com até 23 anos e chamou seu maior astro (Neymar) para uma vaga sem limite de idade.
A diferença técnica para os adversários ficou evidente durante toda a Olimpíada. Mesmo que a final contra uma equipe B da Alemanha tenha sido decidida nos pênaltis, dava para notar facilmente qual time tinha os melhores jogadores. Por isso, o ouro era praticamente uma obrigação.
Isso não significa, no entanto, que a conquista deve ser desmerecida. Rogério Micale e seus comandados tiveram o mérito de suportar o peso do favoritismo em casa e a pressão pela conquista inédita.
Também conseguiram resgatar em alguns momentos a ideia de "jogo bonito" tão identificado com o passado do futebol pentacampeão mundial.
Ainda que os rivais não fossem os mais fortes, o Brasil mostrou ímpeto ofensivo, jogadas bem trabalhadas e uma geração que pode crescer na seleção principal em breve.
Só não dá para bradar "o campeão voltou", como o Maracanã entoou em vários momentos da decisão. O Brasil ganhou a medalha de ouro olímpica, mas isso não significa que voltou a ser o melhor do mundo. Longe disso.
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Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
Sobre o Blog
Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.