Para o bem e para o mal, o futebol é o que é graças a Havelange
Rafael Reis
16/08/2016 08h52
Jogadores espalhados pelos cinco cantos do planeta, salários milionários, oportunidade única de ascensão social para jovens nascidos e criados em condições precárias, o maior espetáculo da Terra.
Corrupção, esquema de pagamento de propinas, dirigentes e até ídolos com as carreiras manchada por grandes escândalos, ódio à Fifa.
Para o bem e para o mal, o futebol é o que é hoje graças a João Havelange.
Presidente da Fifa entre 1974 e 1998, o dirigente brasileiro, que morreu nesta terça-feira, aos 100 anos, é o responsável direto pela transformação da modalidade em uma máquina de fazer dinheiro. E também pela sujeira que tanto a ronda.
Foi para chegar ao poder que esse filho de belgas que competiu na natação dos Jogos Olímpicos de Berlim-1936 e no polo aquático de Helsinque-1952 criou os preceitos do futebol como um fenômeno global.
De olho em votos que diminuíssem a força dos europeus dentro da Fifa e assim garantissem sua perpetuação na presidência, Havelange semeou o futebol e lutou pelo seu desenvolvimento na África, na Ásia, na Oceania e na América Central.
Além de campeonatos de base e incentivos para o fortalecimento dessas "seleções menores", distribuiu mimos, cargos e dinheiro, muito dinheiro, em troca da lealdade (e dos votos) dos cartolas.
Criou assim um círculo vicioso. Atraiu para o futebol o pior tipo de dirigente, aquele que via o esporte apenas como uma possibilidade de enriquecer, um passaporte para a vida boa dos homens da Fifa.
Entregou a presidência da entidade que governa o futebol mundial em 1998 para Joseph Blatter, seu antigo braço direito. E aos poucos foi vendo seu nome desmoronar.
Já nos últimos anos de vida, viu-se obrigado a renunciar do seu posto de membro do COI (Comitê Olímpico Internacional) e da presidência honorária da Fifa por supostamente ter recebido subornos em contrato com uma agência de marketing que vendia os direitos de transmissão da Copa do Mundo, a ISL.
Com a saúde debilitada, não pode participar da Olimpíada que ajudou a levar para o Rio de Janeiro. Mas caso aparecesse na cerimônia de abertura ou em qualquer competição, certamente receberia uma histórica vaia.
Mas, para o bem e para o mal, o futebol é o que é hoje graças a João Havelange.
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Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
Sobre o Blog
Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.