Brasileiro conta bastidores de 1º time campeão nacional com técnica mulher
Rafael Reis
13/05/2016 06h00
O atacante brasileiro Giovane da Silva, 33, ex-Marcílio Dias e Brusque, sabe que a campanha que deu ao Eastern o seu quinto título da primeira divisão de Hong Kong já entrou para a história do futebol mundial.
O motivo não são os dez gols que o colocaram no topo da artilharia do campo, mas sim uma jovem de 27 anos até então desconhecida no cenário nacional, Chan Yuen-ting.
Ex-tradutora e analista de desempenho do Eastern, a geógrafa de formação e fã de David Beckham se tornou a primeira mulher do planeta a conquistar um título nacional como treinadora de uma equipe masculina.
"Foi uma experiência única. Somos o primeiro time campeão com uma mulher liderando. É bem diferente de tudo que eu já havia vivido no futebol", disse Giovane, que chegou em Hong Kong há nove anos.
Yuen-ting ocupava o cargo de assistente do Eastern até dezembro, quando o treinador do time foi convidado a trabalhar na China e abriu espaço para sua promoção. A decisão da diretoria surpreendeu os jogadores.
"Para falar a verdade, eu não tinha muita expectativa de que daria certo. Mas o time já estava meio pronto, ela só fez algumas mudanças na escalação, a gente acabou ganhando jogos e levamos a liga."
De acordo com Giovane, a técnica do Eastern é uma figura um pouco distante dos jogadores. Fechada, não é muito de conversas individuais. Prefere os bate papos públicos: são duas preleções antes de cada partida, uma na véspera do jogo e outra minutos antes de entrar em campo.
Para evitar o constrangimento de flagrar algum jogador tomando banho ou se trocando, Yuen-ting pouco vai ao vestiário. Quem fica mais próximo do elenco nesses momentos são seus auxiliares.
"A gente vai para o vestiário, coloca o uniforme e só então ela entra para fazer o preleção. Depois do jogo, ela desce com a gente, fala um pouco e já sai. Nunca aconteceu nenhuma situação delicada."
Apesar de ter vivido de perto a conquista de Yuen-ting, Giovane acha difícil que outras treinadoras consigam seguir o mesmo caminho trilhado pela comandante do Eastern e tenham sucesso no futebol masculino.
"Acho que é um caso único. É complicado uma mulher liderar um time de futebol. Ela é uma exceção. Não imagino que vá acontecer de novo com outra mulher."
Após a conquista histórica, Yuen-ting renovou seu contrato com o Eastern. No entanto, a treinadora avisou o elenco antes das férias que não sabe se continuará à frente da equipe na Liga dos Campeões da Ásia da próxima temporada.
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Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
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Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.