Ex-São Paulo se junta a brasileiros em audacioso projeto de clube búlgaro
Rafael Reis
19/04/2016 06h00
Entre os 33 mil habitantes da pequena cidade de Razgrad, no nordeste da Bulgária, um grupo em especial chama a atenção.
Eles são diferentes fisicamente, falam outra língua, preferem arroz e feijão ao tarator (uma sopa de iogurte popular por lá) e, o mais importante, estão o tempo todo juntos.
Os sete jogadores brasileiros do Ludogorets, atual tetracampeão nacional e prestes a conquistar o quinto título consecutivo, seus familiares e um pastor levado por eles para Razgrad não se desgrudam.
Juntos, formaram uma espécie de embaixada brasileira no interior da Bulgária. Algo essencial para matar as saudades de casa e também driblar as dificuldades culturais de se estar em um país tão diferente.
"A gente precisa desse apoio porque o país é muito diferente do Brasil. Aqui, se você balança a cabeça de lado, está falando 'sim'. E o 'não' é se você faz o gesto do nosso sim", afirmou o meia-atacante Jonathan Cafú, 24.
Ex-jogador do São Paulo, ele está em sua primeira temporada no exterior e credita aos amigos brasileiro de time sua rápida adaptação à Bulgária –tem sete gols e duas assistências em 23 jogos pelo Ludogorets.
"Facilitou muito o fato de eles já estarem aqui e me ajudarem. Sempre que chega um brasileiro novo no clube, eles acolhem como se fossem irmãos. Todos os brasileiros aqui são cristãos. Então, a gente vai para o culto, joga Uno cada dia na casa de um, faz um churrasquinho. Conseguimos levar uma vida na cultura brasileira", diz.
Além de Cafú, os laterais Cicinho (ex-Santos) e Natanael (ex-Atlético-PR), o volante Lucas Sasha (ex-Corinthians), os meia Wanderson (ex-Portuguesa) e Marcelinho (ex-Mogi Mirim) e o atacante Juninho Quixadá (ex-Bragantino) fazem parte da "família brasileira" no Ludogorets.
Marcelinho, na Bulgária desde 2011, já até se naturalizou e hoje defende a seleção.
Mas, apesar do ambiente familiar criado pela embaixada brasileira, Razgrad ainda traz algumas dificuldades para os estrangeiros do Ludogorets. E elas são bastante dolorosas…
"É difícil ver algum negro aqui na Bulgária, ainda mais em uma cidade pequena como a minha. Nunca falaram nada de racismo para mim, mas dá para ver no olhar um pouco de discriminação. A gente finge que não nota porque não quer confusão", afirma Cafú.
O ex-são-paulino e os outros brasileiros fazem parte de um projeto que visa transformar o Ludogorets em uma potência internacional. O clube, que se revezava entre a segunda e a terceira divisão búlgaras, foi comprado em 2010 por Kiril Domuschiev, um magnata da indústria farmacêutica e rapidamente se tornou o número um do país.
Na temporada passada, o time chegou a disputar a Liga dos Campeões da Europa e conseguir um empate contra o Liverpool, mas caiu ainda na fase de grupos. Na atual, parou na segunda rodada da fase preliminar.
"Em breve, o Ludogorets será um dos times grandes da Europa", completa o ex-jogador do São Paulo.
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Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
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Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.