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Salário atrasado e trocas de técnico: até parece que Xandão joga no Brasil

Rafael Reis

28/03/2016 06h20

O zagueiro Xandão, 28, deixou o São Paulo para se aventurar na Europa em 2012. Mas quatro anos depois da mudança para o exterior, ele ainda sente como se estivesse jogando no Brasil.

É que salários atrasados e trocas repentinas de técnicos, características tradicionais do futebol pentacampeão mundial, também fazem parte do Kuban Krasnodar, time que ocupa a 13ª colocação e luta contra o rebaixamento no Campeonato Russo.

"Meu clube é bem abrasileirado mesmo. Para você ter uma ideia, estou com três meses de salário atrasado. Saio do Brasil para viver uma situação melhor e encontro a mesma coisa por aqui", conta.

Já são três anos no Kuban, tempo em que o zagueiro foi dirigido por sete técnicos diferentes.

"Isso não existe em nenhum lugar da Rússia e nem na Europa, mas é a cultura do clube. A gente teve um treinador [Viktor Goncharenko, hoje no CSKA] que foi demitido quando estávamos em terceiro no campeonato e só com uma derrota em 13 partidas. Ele perdeu o emprego depois de uma vitória. Eu nunca tinha visto isso."

Infelizmente para Xandão, o comportamento do seu clube é a única coisa na Rússia que lhe lembra o Brasil. O zagueiro sente falta de sua terra e mesmo de Portugal –jogou por um ano no Sporting logo depois de sair do São Paulo.

"Tive um choque de realidade aqui. A diferença na qualidade de vida é muito grande se comparado a São Paulo e Lisboa. Aqui tudo parece mais velho, da época da União Soviética. Tem também o clima, é frio demais, e a língua."

Mas, pelo menos em relação ao idioma, Xandão admite que o culpado pelas dificuldades foi ele.

"Nas primeiras três temporadas aqui, eu tinha tradutor no clube, então acabei me acomodando. Falo só um pouquinho de russo, o suficiente para me virar no hotel, no aeroporto, nos restaurantes. Mas eu devia ter estudado mais."

Outro ponto que dificultou o relacionamento entre o zagueiro e o país-sede da Copa do Mundo-2018 foi o conflito bélico na Crimeia, região no leste da Ucrânia, no qual os russos estão envolvidos desde 2014.

"Teve uma época que bateu um certo desespero porque Krasnodar está perto da Ucrânia. Tem uma base militar que fica de frente para o nosso centro de treinamentos. Então, a gente vê aviões pousando, paraquedistas saltando. É meio complicado."

Com contrato com o Kuban apenas até junho e livre para assinar um pré-acordo com outro clube, Xandão até admite esticar um pouco sua permanência na Rússia. Mas essa não é a sua prioridade para o futuro.

"Queria voltar para o centro da Europa, jogar na Espanha ou na Itália, ou mesmo voltar para o Brasil. Já recebi algumas sondagens daí e não descarto um retorno já no segundo semestre", completa.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.


Rafael Reis