Já começou: se a Fifa não impedir, Qatar terá "seleção de aluguel" em 2022
Rafael Reis
26/03/2016 07h00
Dois franceses, dois ganenses e dois brasileiros, além de um representante da Arábia Saudita, outro de Bahrein, mais um de Guiné, Argélia, Cabo Verde, Sudão e até do Uruguai.
Se esse fosse um time de futebol qualquer, alguém apenas destacaria como curiosidade a diversidade de nacionalidades presentes no elenco.
Mas esse não é um grupo de jogadores que defende a camisa de um clube de qualquer canto do mundo. É sim a seleção adulta do Qatar.
Dos 27 jogadores convocados pelo técnico uruguaio Daniel Carreño para as partidas contra Hong Kong e China, pelas eliminatórias da Copa do Mundo-2018, pelo menos 13 foram naturalizados para poderem defender a seleção.
A novidade da lista foi a presença do meia Rodrigo Tabata, 35, ex-Santos, que tem como único vínculo com o Qatar o fato de jogar por lá desde 2011.
O volante Ceará, o outro brasileiro na equipe, ganhou a cidadania qatariana em 2013, depois de três anos jogando por lá.
Encher a seleção de naturalizados não tem nada de ilegal desde que todas as regras impostas pela Fifa para a troca de cidadania de jogadores (como a necessidade de ele nunca ter defendido outra seleção principal em um jogo de competição) sejam respeitada.
França e Itália, por exemplo, estão cheias de "estrangeiros" em suas seleções. Mas eles normalmente cresceram no país, no caso dos franceses, ou são descendentes de imigrantes italianos que se espalharam pelo mundo.
Já no Qatar, as naturalizações são uma decisão político-econômica tomada em parceria com o governo. É um jeito simples de aumentar o nível de suas equipes e passar ao planeta a imagem de que o país está evoluindo no esporte.
Mesmo que isso custe o surgimento das seleções de aluguel, um fenômeno que incomoda quase todos os fãs de futebol.
O emirado já fez isso no handebol. O país, que tinha pouca tradição na modalidade, sagrou-se vice-campeão mundial no ano passado depois de contratar alguns dos melhores jogadores do planeta, como o goleiro montenegrino Markovic e o ala esloveno Gajic.
Devido às regras do futebol, que proíbem a mudança de cidadania de jogadores que já tenham defendido outras seleções, é quase impossível que o Qatar repita o sucesso que teve com a bola nas mãos.
Mas tudo indica que a política de naturalizações em massa com apoio inclusive econômico do governo irá continuar também no futebol. Assim, a tendência é que o país-sede da Copa-2022 dispute o Mundial com uma seleção formada por forasteiros.
Uma triste realidade com a qual o futebol terá de acostumar. A menos que a Fifa endureça as regras de naturalização.
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Sobre o Autor
Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.
Sobre o Blog
Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.