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Mourinho deixou de ser especial?

Rafael Reis

31/10/2015 07h40

Cinco vitórias, quatro empates e incríveis sete derrotas. Aproveitamento de apenas 31% dos pontos disputados. Luta na metade de baixo da tabela do Inglês, risco de eliminação na fase de grupos da Liga dos Campeões e queda precoce na Copa da Liga.

Essa não é uma campanha digna de um clube que gasta aproximadamente R$ 80 milhões por ano apenas com o salário do seu treinador. E nem de um comandante que se autoproclama o "Special One", o especial.

Em seu terceiro ano da segunda passagem pelo Chelsea, o português José Mourinho, 52, vive o pior início de temporada de toda sua carreira e tem tido sua demissão especulada no clube que o transformou em um popstar da prancheta.

De acordo com o britânico "Daily Mirror", o dono do time londrino Roman Abramovich não engoliu a derrota nos pênaltis para o Stoke City, na Copa da Liga, e pode trocar de treinador no caso de outro resultado negativo, contra o Liverpool, neste sábado.

Mas mesmo que mantenha o emprego, Mourinho já está com a imagem de "especial" arranhada.

O treinador português, que em seus melhores dias era um especialista na guerra psicológica para desestabilizar árbitros, treinadores e jogadores adversários, perdeu essa capacidade. Agora, é ele quem parece desequilibrado.

A fortaleza mental de Mourinho começou a ruir ainda no seu emprego anterior, no Real Madrid. Os três anos sem conseguir levar o clube à esperada décima conquista da Champions parecem ter mexido com seu ego.

Na Espanha, o português entrou em guerra com o goleiro Iker Casillas, ídolo do Real, que, a bem da verdade, vivia um momento ruim.

Mas também teve sérios atritos com aqueles que deveriam ser seus maiores aliados, o zagueiro Pepe e o atacante Cristiano Ronaldo, ambos empresariados pelo agente que também representa o treinador, Jorge Mendes.

No Chelsea, a situação só piorou. O título inglês conquistado na primeira temporada da volta à ilha não foi suficiente para recolocar sua cabeça no lugar. E Mourinho seguiu colecionando inimigos.

A vítima mais conhecida do treinador foi a médica Eva Carneiro, que foi ofendida em campo pelo treinador devido a um atendimento ao belga Hazard e posteriormente demitida do clube.

Se ela fosse sua única inimiga, a situação ainda não seria tão ruim. Mas Mourinho perdeu a confiança do elenco ao criticar jogadores nominalmente como culpados pela má-fase do Chelsea.

"Não estou contente com as exibições de Ivanovic, Gary Cahill, John Terry, Azpilicueta, Eden Hazard, Fàbregas e Matic", disse em agosto, antes de falar que também não estava satisfeito com ele próprio.

Dentro de campo, o português é um gênio, alguém capaz de adaptar a seu time a diferentes estilos de jogo dentro de uma mesma partida, vencer a Liga dos Campeões por dois clubes (Porto e Inter de Milão) e apresentar ao planeta um antídoto para o tiki-taka dos melhores dias do Barcelona.

Mas um gênio não se faz apenas dentro de campo. É hora do português esfriar a cabeça e repensar seu comportamento. Para voltar a ser "especial", Mourinho precisa primeiro aceitar que é "normal".

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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.


Rafael Reis