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Jogadores naturalizados na seleção brasileira, que mal tem?

Rafael Reis

18/10/2015 08h00

O atacante argentino Lucas Pratto, vice-artilheiro do Campeonato Brasileiro, com 12 gols, deu a entender durante a semana que aceitaria um convite para defender a seleção de Dunga.

O jogador do Atlético-MG, no entanto, ainda não possui condições legais de jogar pelo Brasil. Mas, se um dia obtiver essa cidadania, por que não permitir que ele (ou qualquer outro) vista a camisa amarelinha?

Já até imagino as respostas de "ah, mas isso é uma afronta ao futebol pentacampeão mundial" ou "ele é um argentino, vai desrespeitar nosso país".

Balela. Eusébio, o maior jogador português antes de Cristiano Ronaldo, nasceu em Moçambique (então uma colônia lusitana). E também não consigo imaginar muitos espanhóis reclamando caso Messi tivesse optado por atuar pela Fúria, e não pela Argentina.

Em um país que foi construído por imigrantes, como é o Brasil, descartar uma possível ajuda nascida fora do país à seleção beira a xenofobia.

Em que mundo, por exemplo, Petkovic deve ser considerado menos brasileiro que Rafinha Alcántara?

Tudo bem que o ídolo de Flamengo, Fluminense e Vasco é natural da antiga Iugoslávia, mas ele mora no Brasil, quase que ininterruptamente, há praticamente 20 anos. Enquanto isso, o meia do Barcelona, apesar de ter nascido por aqui, vive desde a adolescência na Espanha.

A resposta é simples. Não há diferença entre eles. Ambos são brasileiros. Cada um do seu jeito.

Além dessa questão de cidadania e respeito ao próximo, a abertura da seleção para estrangeiros é uma tendência global. E não há porque o Brasil fugir dela.

Praticamente todas as principais seleções do mundo, como Espanha, Itália, França e Alemanha, foram nas últimas décadas buscar fora aquilo que elas não conseguiram produzir em casa.

O próprio Brasil já fez isso, ainda que apenas na base. Andreas Pereira, um meia de elevada inteligência tática do Manchester United, jogou pela Bélgica, país onde nasceu e cresceu, até a seleção sub-17, quando foi convencido pela CBF a passar a defender a equipe sub-20 da terra do seu pai.

Falta romper essa barreira no adulto, assim como faltam ao Brasil boas opções para o ataque.

Pratto pode até não ser a resposta para esse problemas. Mas a simples discussão sobre a possibilidade de um dia convocá-lo já é muito enriquecedora para a seleção.

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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.


Rafael Reis