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Rafael Reis

A história do soldado nazista que se tornou ídolo do City e virou filme

Rafael Reis

24/06/2019 04h00

Se não fosse o futebol, Bert Trautmann seria apenas mais um dos milhares de ex-militares germânicos que foram capturados pelas Forças Aliadas durante a Segunda Guerra Mundial e que passaram o restante da vida sendo chamados de nazistas por onde quer que passassem.

Mas o esporte mais popular do planeta mudou o destino desse alemão nascido em Bremen. De integrante do exército de Adolf Hitler, ele se tornou um dos maiores nomes da história do Manchester City.

Crédito: Reprodução

De tão extraordinária, a trajetória do goleiro que ocupa o quarto lugar no ranking dos jogadores que mais atuaram pelos Citizens (545 partidas, entre 1949 e 1964) virou até obra de cinema.

O filme "The Keeper" ("O Goleiro", em tradução livre para o português) foi apresentado pela primeira vez no Festival de Zurique de 2018 e entrou no circuito comercial dos cinemas alemães e britânicos entre março e abril deste ano.

O longa é uma cinebiografia de Trautmann e conta a incomum história de alguém que foi integrante da Juventude Hitlerista, serviu na guerra, foi capturado, reconstruiu a vida graças ao futebol e acabou até condecorado com a Ordem do Império Britânico.

O ídolo do City participou durante três anos das ações militares da Luftware, a divisão aérea do exército nazista, na Segunda Guerra antes de ser capturado pelos britânicos e transferido para uma colônia de trabalhos agrícolas para prisioneiros.

Foi lá que ele começou a mostrar seu talento para o futebol. O goleiro se destacava tanto nas peladas entre os prisioneiros que rapidamente conseguiu uma vaguinha em um time amador inglês quando foi liberado da prisão, em 1948.

Um ano depois, acabou no Manchester City. Mas sua chegada ao clube não foi nada pacífica. Ainda horrorizados com Hitler e a guerra que devastou a Europa, torcedores organizaram um abaixo-assinado pedindo que a contratação de Trautmann fosse revogada e sugeriram um boicote ao clube.

Mas o goleiro alemão rapidamente conquistou o coração dos seus antigos inimigos nos campos de batalha. Na segunda temporada na Inglaterra, já era titular absoluto da equipe e, em 1956, consagrou-se de vez.

Naquele ano, Trautmann liderou o City na conquista da Copa da Inglaterra. Mais que isso, disputou os últimos 17 minutos da final contra o Birmingham com uma grave lesão no pescoço –teve quatro vértebras deslocadas e uma, quebrada.

O goleiro ficou um ano afastado do futebol devido à contusão que, de acordo com seus médicos, poderia até ter provocado sua morte. O alemão permaneceu no City até 1964 e jogou ainda mais uma temporada antes de se aposentar.

Trautmann morreu em 2013, aos 89 anos, já devidamente condecorado como um dos maiores ídolos do clube azul de Manchester e até reconhecido pelo governo britânico por sua importância na reaproximação entre Alemanha e Reino Unido no pós-guerra.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.