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Rafael Reis

1º negro da história das seleções era filho de escrava e foi "corinthiano"

Rafael Reis

20/11/2018 04h20

Dos 11 titulares da França na conquista da última Copa do Mundo, seis possuem pele negra. Os exemplos de Raphaël Varane, Samuel Umtiti, N'Golo Kanté, Paul Pogba, Kylian Mbappé e Blaise Matuidi são um retrato de como, pelo menos dentro de campo, o futebol vem superando o racismo.

Mesmo seleções de países que possuem população hegemonicamente branca têm se aproveitado nos últimos anos do talento negro oriundo de suas antigas colônias ou das migrações provocadas pelo processo de globalização.

Crédito: Reprodução/Scottish Football Musem

Mas quem será que foi o primeiro jogador de pele escura a defender uma seleção adulta? No dia da Consciência Negra, o "Blog do Rafael Reis" conta a história do ex-zagueiro e lateral esquerdo Andrew Watson, responsável pela façanha.

Nascido em 1856, no território da atual Guiana, na época uma das inúmeras colônias do Império Britânico, o ex-defensor era filho de um barão da cana de açúcar com uma ex-escrava que havia trabalhado nas propriedades da família.

Watson se mudou para a Europa ainda na infância e estudou em escolas de endinheirados. Aos 19 anos, já estudante de engenharia na Universidade de Glasgow, passou a se dedicar ao futebol.

Dentro de campo, tornou-se o primeiro negro a conquistar um campeonato oficial de futebol (Copa da Escócia, em 1881, pelo Queen's Park) e a disputar a tradicional Copa da Inglaterra.

Ainda em 1881, fez história ao defender a Escócia na goleada por 6 a 1 sobre a Inglaterra. Escolhido como capitão da equipe, foi o primeiro jogador de pele negra a disputar uma partida entre duas seleções.

Mas Watson, que também participava de competições de salto em altura, teve vida curta com a camisa escocesa. Um ano após sua estreia e com apenas três jogos pelo time nacional, o ex-zagueiro se mudou para a Inglaterra e parou de ser convocado.

No novo país, o ex-zagueiro preferiu não aderir ao movimento de profissionalização que começava a tomar conta do futebol inglês. Até onde se sabe, ele continuou amador e até defendeu o Corinthian, clube que se tornou símbolo da resistência à era moderna da modalidade e que inspirou a criação do time quase homônimo no Brasil.

Watson, que sempre trabalhou como engenheiro e projetava navios para ganhar a vida, jogou até 1892. Ele morreu de pneumonia, aos 64 anos, no começo da década de 1920.

A Escócia, país que ele defendeu ao longo da carreira nos gramados, só voltou a ter um negro em sua seleção principal depois de mais de um século –em 2004, o ex-meia Nigel Quashie estreou pelo time.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.