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Rafael Reis

Ex-seleção alemã trocou futebol pelo Estado Islâmico e morreu terrorista

Rafael Reis

11/02/2018 04h00

Em meados da década passada, Burak Karan era uma das grandes apostas para o futuro do futebol alemão. O volante e zagueiro de Bayer Leverkusen, Hertha Berlin, Hamburgo e Hannover parecia que teria uma carreira brilhante como profissional.

Mas ele não teve o mesmo destino de Sami Khedira (Juventus) e Kevin Prince-Boateng (ex-Milan e atualmente no Eintracht Frankfurt), seus companheiros nas seleções germânicas sub-15 e sub-16.

A história de Karan terminou bem distante dos gramados. Cinco anos atrás, ele morreu durante um ataque aéreo a um campo de terroristas em Azaz, cidade na fronteira da Síria com a Turquia.

O ex-jogador da seleção alemã não estava lá por acaso. Desde 2008, ele estava conectado a grupos terroristas. E, quando foi morto, militava nas fileiras do Estado Islâmico.

"Quando ouvi o que havia acontecido com Burak, foi como se eu tivesse recebido uma pancada. Isso é algo que nos faz pensar duas vezes sobre o que pode acontecer com um jovem atleta. Sim, ele pode se tornar uma grande estrela, mas sua vida também pode tomar um rumo completamente diferente. Mesmo como treinador, é impossível você enxergar a alma das pessoas", afirmou o técnico Thomas Hengen, ao jornal britânico "Guardian", logo após a morte de Karan.

Hengen foi o último técnico do jogador que se tornou terrorista. No primeiro semestre de 2008, quando tinha 20 anos e transitava entre as categorias de base e a equipe profissional do Alemania Aachen resolveu radicalizar e mudar de vida.

Incomodado com o que estava acontecendo no Oriente Médio e amigo de integrantes de movimentos islâmicos radicais, decidiu abandonar a carreira no futebol. Mais tarde, pegou sua esposa e dois filhos e partiu para a Síria.

A intenção, segundo relatou seu irmão Mustafá ao jornal alemão "Bild", não era se unir a grupos terroristas e fazer a "jihad" (guerra santa contra infiéis e inimigos do Islã), mas apenas ajudar na coleta e distribuição de donativos para refugiados de guerra.

"Burak me disse que dinheiro e sua carreira não eram coisas importantes. Ele se transformou e começou a assistir a muitos vídeos na internet sobre zonas de guerra. Burak considerava muito injusta a forma como as pessoas que vivem nesses lugares morriam. Um dia, deixou para trás e foi embora", relatou.

A última imagem de Karan surgiu no YouTube poucos dias após a sua morte, em outubro de 2013. No vídeo, o ex-jogador aparecia usando um turbante na cabeça, com um fuzil em punhos.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.