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Rafael Reis

Por que a Juventus pode ter de negociar com Kim para contratar reforço?

Rafael Reis

18/01/2018 04h30

O norte-coreano Han Kwang-song é um atacante de 19 anos que está emprestado pelo Cagliari ao Perugia. O garoto já marcou sete vezes nesta temporada, é um dos destaques da Série B italiana e está na mira da Juventus.

Só que para conseguir levar o jovem asiático para Turim, a atual hexacampeã do Calcio pode ter de negociar diretamente com o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un.

Isso porque o futuro de Han é considerado um assunto de estado. O centroavante, que se tornou no ano passado o primeiro norte-coreano a marcar na elite italiana, é peça central no plano do ditador de transformar o país em uma potência no futebol.

Nascido em Pyongyang, a capital da Coreia do Norte, Han chegou a passar um tempo nas categorias de base do Barcelona durante a adolescência, mas ficou conhecido internacionalmente a partir de 2014, quando liderou a seleção do seu país na conquista do Campeonato Asiático sub-17.

O bom futebol mostrado pelo jovem em seu continente e a proximidade entre o ditador da Coreia do Norte e o polêmico senador italiano Antonio Razzi acabaram lhe rendendo um convite para completar sua formação como jogador no Cagliari.

Han foi promovido ao time principal no ano passado e marcou seu primeiro gol como profissional em abril, na derrota por 3 a 2 contra o Torino.

No início da temporada, foi emprestado ao Perugia para disputar a segunda divisão e ganhar mais experiência. Logo na estreia, ante o Virtus Entella, marcou três vezes. Foi convidado a participar de um programa de TV na Itália, mas Kim vetou a participação.

"Recebemos a ligação de um ministro que bloqueou tudo. Nem foi possível negociar porque Pyongyang fala exclusivamente com Han. As restrições impostas pelo governo estão ficando mais rígidas, os jogadores foram proibidos de aparecer na TV sob ameaça de serem obrigados a voltar para casa", disse o presidente do Perugia, Massimiliano Santopadre.

O veto às aparições públicas não é a única interferência do governo de Kim no dia a dia do reforço desejado pela Juventus no mercado de janeiro.

De acordo com as leis norte-coreanas, o salário recebido por todo cidadão do país que trabalha no exterior pertence ao governo e deve ser mandado para ele.

Clube dono dos direitos econômicos de Han, o Cagliari nega o envio de dinheiro para Kim. No entanto, diz não saber se o atacante fica com sua remuneração para ele próprio ou a manda para a Coreia do Norte.

Dois anos atrás, a Fiorentina foi pressionada a romper contrato com outro jovem norte-coreano, Choe Song-hyok, sob alegação de que o salário do jogador estava financiado o projeto de construção de bombas nucleares da ditadura de Kim.

O meia-atacante deixou o clube de Florença e hoje atua ao lado de Han no Perugia. Com permissão de Kim Jong-un, é claro.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.