"Novo Ronaldinho" enfrentou olhares e toques por ser negro no País da Copa
Rússia, 2006. Em uma época em que os jogadores negros ainda eram raridade no país que vai sediar a próxima edição da Copa do Mundo, o Lokomotiv Moscou pagou 5 milhões de euros (R$ 18,4 milhões, na conversão atual), uma fortuna na época, por um garoto brasileiro de 17 anos, de pele escura e longos cabelos encaracolados, apontado como "Ronaldinho mais jovem".
O resultado? O próprio Celsinho conta: "Eu era uma figura diferente da que eles estavam acostumados e despertava a curiosidade de todo mundo. Onde eu ia, eles queriam tocar na minha pele, passar a mão no meu cabelo".
Ex-promessa da Portuguesa que estourou há pouco mais de uma década, o hoje camisa 10 do Londrina viveu por um ano na Rússia.
E, apesar de não considerar a cena descrita acima como um caso de racismo, mas apenas como uma curiosidade humana perante o novo, admite que o preconceito racial era e continua sendo um problema para o país que irá receber em junho do próximo ano os melhores jogadores do mundo.
"Nunca tive nenhum tipo de problema do tipo, todo mundo sempre me tratou muito bem por lá. Mas é claro que pensamos muito na questão do racismo quando recebemos a proposta da Rússia. E lá me avisaram que era melhor eu não sair de casa no dia do aniversário de Hitler", relembra.
O racismo é um dos problemas que mais preocupam a Fifa na organização da Copa-2018. Apesar de recheado de atletas estrangeiros, muitos deles de origem africana, o futebol russo é palco sistematicamente de manifestações de preconceito racial.
No mês passado, o goleiro Guilherme, que nasceu no Brasil, naturalizou-se russo e hoje defende a seleção local, foi chamado de macaco por torcedores do Spartak Moscou durante a final da Copa da Rússia.
Já o atacante Hulk perdeu as contas do número de vezes que ouviu manifestações racistas vindas das arquibancadas durante as quatro temporadas em que vestiu a camisa do Zenit São Petesburgo.
Celsinho não ficou tanto tempo assim no país da próxima Copa. Um ano depois de chegar, foi negociado com o Sporting e se mudou para Portugal. Dos tempos de Rússia, guarda memórias bem mais positivas do que negativas. E um espanto.
"Na época em que cheguei na Rússia, eles já haviam evoluído muito, mas ainda tinham um pouco daquela mentalidade da União Soviética. Era um absurdo ver o comportamento de um homem quando estava tentando conquistar uma mulher. Você achava que ele estava discutindo com ela e que iria agredi-la. Por isso, quando você conversava educadamente com alguma mulher de lá, ela ficava encantada."
O Blog do Rafael Reis publica às quintas-feiras a seção "País da Copa", que conta as histórias do futebol da Rússia e de jogadores brasileiros que passaram por lá.
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