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Rafael Reis

Como Mourinho dominou "vestiário maluco" com Materazzi, Balotelli e Lúcio

Rafael Reis

25/07/2016 07h00

Se você acha que José Mourinho vai sofrer para lidar com o famoso egocentrismo de Zlatan Ibrahimovic e tem tudo para naufragar no mar de vaidades do Manchester United, é melhor olhar para o passado do treinador português.

Na temporada 2009/10, o Special One provocou surpresa na Europa ao conquistar a Liga dos Campeões com uma Inter de Milão que tinha um vestiário digamos nada tranquilo.

O brasileiro Lúcio, o zagueiro Marco Materazzi e os atacantes Samuel Eto'o e Mario Balotelli, todos conhecidos por não serem figuras das mais fáceis de se lidar, faziam parte do elenco domado por Mourinho.

Mourinho

"Nunca se pensou que o Eto'o poderia trabalhar com o Mourinho depois dos atritos que eles tiveram quando o camaronês jogava no Barcelona. Mas ele não só trabalhou como se sacrificou nas semifinais", disse o jornalista Luís Aguilar, autor do livro "Mourinho Rockstar".

A partida citada pelo biógrafo foi o segundo jogo do confronto com o Barcelona por vaga na decisão da Liga dos Campeões. Com a vantagem de ter vencido o jogo de ida por 3 a 1, Mourinho armou um ferrolho histórico e colocou o atacante camaronês para jogar praticamente como um lateral.

A estratégia deu certo. Os italianos perderam por apenas 1 a 0 e avançaram para a final, na qual derrotariam o Bayern de Munique.

"Eram muitas personalidades fortes naquele elenco. A grande vitória do Mouinho foi relegar ao banco de reservas o Materazzi e não tê-lo como inimigo. Pelo contrário, o italiano virou uma voz a defender o treinador. Ao manter uma boa relação com ele, Mourinho ganhou o respeito do vestiário", afirmou Aguilar.

De acordo com o jornalista, a idade elevada dos jogadores da Inter também contribuiu para que o trabalho do português em conter a fogueira de vaidades do time desse certo. Na época, Eto'o já tinha 29 anos, Lúcio, 32, e Materazzi, 36.

"Eles começaram a perceber que se não ganhassem daquela vez, não teriam outra oportunidade para fazê-lo. Eram sim jogadores de personalidade forte, mas não garotos mimados."

É por isso que, na visão de Aguilar, o único dos jogadores mais difíceis de lidar da Inter na temporada 2009/10 que Mourinho não conseguiu controlar totalmente foi o mais jovem deles.

"Houve um jogo da Champions, contra o Rubin Kazan, e ele não tinha os atacantes titulares à disposição. Então, escalou o Balotelli [então com 18 anos], que levou o amarelo no fim do primeiro tempo. O Mourinho passou dez minutos do intervalo pedindo para ele não ser expulso. No primeiro minuto do segundo tempo, ele recebeu o vermelho."

Um dos jogadores conhecidos por ser de relacionamento difícil naquele elenco, o zagueiro brasileiro Lúcio confirmou que o grupo campeão europeu pela Inter adorava Mourinho e o aceitava muito bem.

"Éramos muito unidos. Um dia, chegamos ao vestiário e o Mourinho havia colocado uma placa bem grande na entrada com a frase "contra tudo e contra todos". Essa foi uma ação dele que nos motivou demais", contou.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.