Topo

Rafael Reis

Último "Leicester" da Europa desbancou grana árabe e gerou cabelo bicolor

Rafael Reis

02/05/2016 06h00

A última grande zebra das maiores ligas nacionais da Europa terminou com o cumprimento de uma inusitada promessa que fez o dono do clube, Louis Nicollin, comemorar o título exibindo um penteado bicolor: um moicano em laranja com as laterais do cabelo em azul.

São essas as cores do Montpellier, o campeão francês da temporada 2011/12, um título quase tão surpreendente quanto a Premier League que o Leicester pode conquistar nesta segunda-feira.

Louis Nicollin

Assim como o pequeno time da Inglaterra, o MHSC (iniciais do nome do clube) jamais havia sido campeão nacional da primeira divisão, vinha de um recente acesso para a elite e tinha escapado do rebaixamento no ano anterior.

Ainda tal como o Leicester, o Montpellier também estava longe de ser um dos times mais ricos do país. Com apenas 2 milhões de euros (menos de R$ 8 milhões, na cotação atual) em reforços naquela temporada, o clube havia tinha apenas o 13º elenco mais caro da Ligue 1.

Mas foi esse time modesto que deixou para trás o Lille, de Eden Hazard, eleito o craque da temporada, os tradicionais Olympique de Marseille e Lyon e, principalmente, o Paris Saint-Germain, que acabara de ser comprado por um fundo de investimentos do Qatar e havia torrado 107 milhões de euros em contratações (R$ 422 milhões de hoje).

Foi justamente o PSG, que já tinha Pastore, Thiago Motta e Matuidi, a maior ameaça ao título do Montpellier. O time da capital, que ganharia as quatro temporadas seguintes, foi vice-campeão, com três pontos a menos que a zebra azul e laranja.

A receita do Montpellier foi montar a melhor defesa do Campeonato Francês (34 gols), liderada pelo brasileiro Hilton e Yanga-Mbiwa, e apostar nas categorias de base.

Giroud

Dirigido por René Girard, com seis anos de experiência nas seleções menores da França, aquele time lançou vários garotos, como o próprio Yanga Mbiwa (hoje no Lyon), o volante Benjamin Stambouli (PSG) e o meia Younes Belhanda (Schalke 04).

O principal nome da conquista, no entanto, não foi formado em casa. O centroavante Olivier Giroud havia sido artilheiro e craque da segunda divisão em 2010 pelo Tours, o que lhe rendeu a transferência para o Montpellier.

Na histórica temporada 2011/12, o atacante marcou 25 gols, marca que nunca mais alcançou na carreira. Foi o goleador do Francês (ao lado do brasileiro Nenê, então no PSG e hoje no Vasco), entrou na seleção do campeonato e descolou uma nova mudança de clube, para o Arsenal, onde ainda joga.

Após o inédito título, o Montpellier foi perdendo seus principais jogadores e nunca mais foi o mesmo. Na Liga dos Campeões de 2012/13, não venceu uma única partida e terminou o grupo com Schalke 04, Arsenal e Olympiacos na última colocação.

Já no Francês, jamais voltou a brigar sequer por vaga na Champions. Sua melhor campanha desde então foi a sétima posição da temporada passada.

O time atual guarda pouco resquícios daquele título. Hilton ainda está por lá e é o capitão da equipe. O presidente Louis Nicollin, aquele dos cabelos azul e laranja, também continua à frente do clube.

Apesar das mudanças, resta no Montpellier o orgulho de ter feito frente aos grandes, de ter surpreendido ao conquistar um quase inacessível título nacional, de ter sido o Leicester do seu tempo.


Mais de Clubes

– Inglaterra pode ter campeão inédito após 38 anos. E os outros países?
– Histórica, casa de rival do Corinthians é "salão de festas" de adversários
– Depois do Brasil, Argentina quer criar a sua "Primeira Liga"
– Leicester já teve artilheiro de Copa, "goleiro de Pelé" e estrela rival

 

Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.