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Rafael Reis

Torcedores: Santista relutou, mas se apaixonou por "Corinthians húngaro"

Rafael Reis

13/03/2016 08h00

Santista de nascimento, o estudante de relações internacionais Pedro Lucas Staudt, 25, relutou para se aceitar como torcedor do Ferencváros, o clube mais popular e vitorioso da Hungria.

Radicado em Budapeste há sete anos devido a uma bolsa de estudos que recebeu por ser descendente de húngaros, ele precisou superar o preconceito que sentia para assumir a paixão pelo "time do povo" de lá.

"Logo no meu primeiro ano aqui, uma amigo me levou ao estádio porque sabia que eu adorava futebol. A experiência foi interessante, mas não me identifiquei muito com eles. Achei meio Corinthians demais".

Pedro Staudt

Além do caráter popular da torcida, outro ponto o incomodou no Ferencváros: as cores verde e branca, rapidamente associadas por ele ao Palmeiras, outro dos maiores rivais santistas.

"Eu não queria torcer para o Corinthians da Hungria. Fui assistir a outras equipes mas era difícil. Todo mundo aqui torce para o Fradi [apelido do time]. Então, era difícil encontrar alguém para me acompanhar."

Pedro precisou de mais um ano na Hungria para jogar a toalha. Foi necessário um novo convite para assistir ao Ferencváros de perto para que ele se rendesse e apagasse a imagem de Corinthians que tinha daquele clube.

"Foi diferente. Não assisti ao jogos com os hooligans, como da primeira vez. Fui com meu amigo, seu pai e os amigos deles [todos já na faixa dos 60, 70 anos] em um setor que aí no Brasil é chamado de Turma do Amendoim."

"Ao ver o amor daqueles senhores, alguns vindos do interior em viagens de trem que poderiam durar até três horas, para seguir uma equipe que apenas voltava da Série B, alguma coisa mudou em mim."

Rapidamente, Pedro deixou de ser o cara que fugia do "Corinthians húngaro" para não macular seu Santos de coração para se tornar o brasileiro que torce para o Ferencváros.

O estudante compra anualmente o carnê de ingressos para todos os jogos do time em casa e ainda se aventura a assistir algumas partidas do Fradi como visitante. Evidentemente, ficou conhecido entre os torcedores do clube.

"Já dei até entrevista para a TV daqui. É que uns cinco anos atrás, comecei a gritar em português com um atacante brasileiro que jogava aqui, o Somália. No fim do jogo, ele veio ao alambrado e ficou conversando comigo."

Só que os dias de Pedro acompanhando de perto o Fradi podem estar chegando ao fim. O brasileiro planeja deixar a Hungria assim que se formar. O destino chama a atenção: algum país do Sudeste Asiático.

"Mas te garanto que o Ferencváros vem comigo. Agora, não dá mais para abandonar", garante.


A seção "Torcedores" é publicada semanalmente e traz histórias de brasileiros que torcem para clubes de outros países. Se você é apaixonado por um time estrangeiro e quer ter seu caso publicado, escreva para rafaelmdosreis@gmail.com

Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.