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Rafael Reis

Torcedores: Acompanhar o Arsenal salvou "inglês" do Rio da depressão

Rafael Reis

21/02/2016 07h40

Lockie Lancaster nasceu na Inglaterra, tem 20 anos e estuda jornalismo no Rio de Janeiro. Doente por futebol, é torcedor fanático do Arsenal, a ponto de ter duas tatuagens do clube londrino espalhadas pelo corpo.

Essa história não teria nada de incomum se Lockie não fosse apenas um personagem criado e assumido pelo fluminense Sávio Rezende durante o período mais difícil de sua vida.

"Desde pequeno, eu era muito apaixonado pela Inglaterra. Teve uma época que eu estava em depressão, tomando remédio e criei uma nova identidade. Decidi ser um inglês, o Lockie Lancaster. Esse é meu nome, o nome que eu tanto queria."

Se Sávio não era muito chegado em futebol, Lockie, como todo bom inglês, precisava gostar do esporte. A solução para esse problema veio quando ele (ou será que seriam eles?) estava assistindo a um filme.

Lockie

"Foi uns seis anos atrás, quando eu vi o "Hooligans". Ainda estava em uma fase ruim da minha vida. Graças a ele, comecei a gostar do Arsenal e me apaixonei pelo futebol. De repente, fiquei meio louco. Só pensava nisso."

Mas essa loucura chamada Arsenal, reconhece Lockie, ajudou-o a superar a depressão e desistir da pior ideia que já teve: acabar com a própria vida.

"Eu já tinha tentado me matar três vezes. O Arsenal foi mais um motivo para querer viver. Queria acompanhar seus jogos, ver as notícias sobre o time. Posso falar que ele me ajudou bastante."

Mesmo com o fim da doença, Sávio não aposentou Lockie. Os dois continuam vivendo juntos dentro do mesmo corpo. Afinal, Lockie é uma parte de Sávio.

Juntos, eles fizeram questão de ir para Londres conhecer Wembley e o Emirates Stadium, casa do Arsenal, antes de pisarem pela primeira vez em outro templo do futebol mundial, o da cidade onde vivem.

"O primeiro jogo que assisti na vida foi em Wembley. O segundo, no Emirates, Depois, até fui a um jogo no Maracanã. Mas eu não iria a um jogo no Brasil antes de conhecer esses dois [estádios]", conta.

A paixão de Lockie pelo Arsenal está expressa em sua rotina. Dono de uma coleção de mais de 50 camisas dos Gunners, ele não perde há três anos uma partida da equipe para a qual escolheu torcer.

"Tenho todo aquele ritual pré-jogo. Uma hora antes, tomo banho, coloco a camisa do dia e meu cachecol da sorte, dou um beijo nos escudos de cada camisa e nas bandeiras. E, então, sento para assistir o jogo."

E o que as outras pessoas acham dessa devoção ao Arsenal? Não o criticam por não ter escolhido o Flamengo ou o Vasco como objeto de tanta dedicação?

"Meus amigos de faculdade até ficaram meio assim no começo. Mas as pessoas me veem e já me acham maluco, então não tem esse problema. É que meio que vivo nesse regime de ser inglês", completa Lockie, ou melhor, Sávio, ou melhor, os dois.


A seção "Torcedores" é publicada semanalmente e traz histórias de brasileiros que torcem para clubes de outros países. Se você é apaixonado por um time estrangeiro e quer ter seu caso publicado, escreva para rafaelmdosreis@gmail.com

Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.