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Rafael Reis

Antigo herói corintiano na Copinha viu drama e está “perdido” no Chipre

Rafael Reis

22/01/2016 07h10

Quando marcou o primeiro gol da vitória por 2 a 1 sobre o Atlético-PR, que deu ao Corinthians o título da Copa São Paulo de 2009, o meia-atacante Fernando Henrique achou que sua carreira estava encaminhada.

Os planos estavam bem traçados em sua cabeça: subir para o time profissional, conquistar uma vaga entre os titulares, talvez descolar uma transferência para um grande clube da Europa e quem sabe até defender a seleção brasileira.

Sete anos depois, sua vida está bem diferente da planejada. Fernando Henrique joga no En Thoi Lakatamia, time recém-promovido para a segunda divisão do Chipre. E agradece aos céus por essa oportunidade.

É que entre o título da Copa São Paulo e seu trabalho atual, o meia-atacante passou por um clube falido, sofreu com atraso de salários, viveu em um país em guerra, quase passou fome e enfrentou o desemprego.

Fernando Henrique

A epopeia de Fernando Henrique começou em 2010. Após ser emprestado para ganhar experiência em times pequenos e ainda sem estrear na equipe adulta do Corinthians, ele foi usado como moeda de troca na contratação do zagueiro Paulo André.

A ida para o Le Mans, da França, parecia um sonho. Mas só parecia.

"A gente sempre acha que todo clube paga em dia na Europa. Mas não é bem assim. O Le Mans estava em dificuldades financeiras e acabou falindo. Cheguei a ficar dois meses sem receber. Em outro mês, eles pagaram só a metade", conta.

Em 2013, veio a segunda experiência marcante na carreira do herói corintiano da Copinha: encarar o futebol da Líbia, um país que, apenas oficialmente, já não estava mais em guerra.

"Eles falavam que a guerra já havia acabado, mas a gente dormia ouvindo explosões de bomba. Os jogadores de lá andavam todos armados. Você via eles andando com fuzis."

Para piorar, a insegurança não era o único problema que incomodava Fernando Henrique no Al-Ittihad de Tripoli.

"O salário prometido era bom. Mas quando fomos eliminados da Liga dos Campeões, eles pararam de nos pagar. Nesse período, também não podíamos sair na rua. Ficamos um bom tempo sem comer direito. Eu nem sei o que eu comia. Eu brincava que era pata de ganso, que eu enchia de maionese e ketchup para descer. Era comer aquilo ou passar fome."

Após um curto período na Moldávia, veio o temido desemprego. Por quase um ano, Fernando Henrique ficou afastado dos gramados e questionou se valia mesmo a pena continuar insistindo em uma carreira no futebol.

"É lógico que bate uma frustração. Fiquei seis anos no Corinthians, fiz uma Copa São Paulo muito boa, mas infelizmente não aconteceu. Hoje, já sou mais vivido e sei que o futebol não é fácil. Mas, naquela época, eu não conhecia a realidade", diz o meia-atacante de 25 anos.

Maduro pelas dificuldades que enfrentou desde que deixou de ser uma promessa da base corintiana, Fernando Henrique ainda dá dicas para que a nova geração de jovens jogadores tenha um caminho menos penoso que o dele.

"Vocês têm que aproveitar ao máximo a Copa São Paulo. É uma vitrine que faz você ser lembrado. Só dei essa entrevista por causa dela. Mas depois da Copinha, você tem que colocar o pé no chão, lembrar que ainda não é um jogador formado e agarrar toda oportunidade que aparecer."

Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.