Europa segue tendência do Brasil e transforma técnicos em "descartáveis"
A demissão de José Mourinho pelo Chelsea e a decisão de Pep Guardiola de deixar o Bayern de Munique no final desta temporada estão muito mais interligadas do que parece.
As mudanças de rumo nas carreiras dos dois mais importantes treinadores do século XXI refletem uma transformação de filosofia no futebol europeu.
A cada dia mais, o Velho Continente se assemelha ao Brasil por considerar os técnicos como um produto com prazo de validade bem curto.
A era dos treinadores longevos, simbolizada por Alex Ferguson, que passou 27 anos à frente do Manchester United e se aposentou em 2013, chegou ao fim.
Nas quatro principais ligas nacionais europeias (Inglaterra, Espanha, Alemanha e Itália), há apenas um técnico há mais de cinco anos no cargo.
E Arsene Wenger, o mais longevo de todos e no comando do Arsenal desde 1996, tem há tempos sua cabeça pedida pelos torcedores.
Por outro lado, os clubes com técnicos recém-contratados se proliferam pela Europa. Dos 78 times da elite dos quatro principais países, 43 trocaram de comandante em 2015.
É claro que esses números estão distantes do absurdo visto no Campeonato Brasileiro, em que apenas o Corinthians não mudou de treinador durante a última edição, mas mostram uma mudança de tendência.
A velocidade do mundo contemporâneo, a voz crescente de torcedores via redes sociais e outros canais de comunicação e o investimento pesado que um clube precisa ter para ser competitivo na elite europeia aumentam a cobrança por resultados rápidos. Quem não responde instantaneamente é limado.
Quedas de desempenho, algo normal em ciclos mais longos de trabalho, também não são perdoadas. Pouco importa sua história ou fama.
Mourinho, por exemplo, é ídolo no Chelsea e foi campeão inglês sete meses atrás, mas não aguentou meia temporada de resultados muito ruins e acabou demitido na semana passada.
Quem parece entender bem como funcionam esses novos tempos é Guardiola, que decidiu que sua terceira temporada no Bayern será a última apesar da hegemonia que o clube possui na Alemanha.
O catalão repetiu assim o expediente que já havia adotado no Barcelona, clube onde se lançou como técnico e virou o número um do planeta. Pediu para sair quando ainda estava em alta, antes que um deslize, por menor que fosse, provocasse sua demissão.
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