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Rafael Reis

Piqué já se prepara para vaias, mas Barça é cada vez menos catalão

Rafael Reis

21/11/2015 07h40

O zagueiro Gerard Piqué, do Barcelona, já sabe que será muito vaiado e xingado pela torcida do Real Madrid assim que pisar no gramado do Santiago Bernabéu para o clássico deste sábado, válido pela 12ª rodada do Campeonato Espanhol.

O camisa 3 será o alvo preferido dos madridistas não apenas porque não perde uma oportunidade de provocar o arquirrival, mas também porque se tornou símbolo da luta da Catalunha para se separar da Espanha.

Piqué fez campanha aberta pela vitória dos separatistas na eleição dos deputados do Parlamento catalão, em setembro. O grupo venceu o pleito, mas não obteve a larga vantagem que queria para emplacar a independência rapidamente.

Catalunha

O envolvimento na briga política Catalunha-Espanha transformou o zagueiro em "persona non grata" em muitos estádios espanhóis. Ele tem sido vaiado nos estádios durante partidas da seleção e já sofreu pressão de torcedores para que deixe de defender a Fúria.

O Barcelona é, tradicionalmente, o principal instrumento de propaganda do movimento separatista catalão.

A braçadeira normalmente usada pelo capitão do time reproduz a bandeira da Catalunha, assim como o segundo uniforme da equipe na temporada 2013/14.

Além disso, sua torcida grita "independência" aos 17min14 das partidas, em alusão a um levante catalão contra a monarquia espanhola em 1714.

Mas, dentro de campo, a participação catalã no time tem encolhido ano após ano.

Duas temporadas atrás, o elenco do Barcelona contava com 12 jogadores nascidos na Catalunha. Agora, são apenas seis, sendo que Piqué, o lateral esquerdo Jordi Alba e o volante Busquets são os únicos titulares absolutos.

A redução pela metade no número de catalães está ligada a uma mudança de mentalidade da direção do Barça.

Como as categorias de base do clube já não produzem tanto quanto em um espaço não muito distante, a opção tem sido por contratar jogadores já prontos e vindos de outras partes do mundo.

É só ver o que aconteceu nas sucessões do goleiro Victor Valdés e do meia Xavi, dois ídolos catalães. O arqueiro foi substituído por um chileno (Bravo) e um alemão (Ter Stegen), enquanto o antigo capitão cedeu seu lugar no time para um croata (Rakitic).

Mas nem esse encolhimento catalão no Barcelona tira do maior clássico espanhol o tempero político que ele carrega. Não enquanto houver um Piqué para incentivá-lo.

Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.