Euro-2016 terá recorde de seleções estreantes... graças aos imigrantes
A Eurocopa-2016, que será disputada na França e desperta desde já a preocupação com possíveis atentados terroristas, é a vitória da imigração.
É graças aos mais variados fluxos migratórios das últimas décadas que o torneio tem, como nunca antes em sua história, cheiro de mudança e uma cara de nova ordem no futebol do continente.
A competição, que ampliou o número de participantes de 16 para 24 seleções, terá recordes de times estreantes: cinco (Islândia, Irlanda do Norte, Gales, Albânia e Eslováquia). Como comparação, em 2012, apenas a Ucrânia apareceu como novidade.
Além disso, a Euro-2016 apresenta e ao mundo uma nova e contestada força. A Bélgica, que chegou à liderança do ranking da Fifa sem nunca ter conquistado um título importante e continua sendo alvo de descrença de muitos torcedores.
Com exceção da Holanda, protagonista do maior vexame das eliminatórias, as velhas e tradicionais forças europeias (Alemanha, Itália, Inglaterra, França, Espanha) estarão todas por lá. Mas nem isso estraga a impressão de revolução no futebol europeu.
E essa revolução aconteceu graças a duas políticas que ajudaram a moldar a Europa contemporânea e que parecem ameaçadas pelo terrorismo e as inseguranças atuais: a recepção de imigrantes e o trânsito livre entre cidadãos europeus pelo continente.
É só olhar para o caso da Bélgica para entender como as migrações ajudaram a transformar o futebol europeu.
A seleção número 1 do mundo renasceu das cinzas e virou protagonista graças a uma geração que tem muito pouco dos tradicionais cabelos loiros e olhos azuis. Uma geração que ganhou diversidade física e de talentos devido aos imigrantes.
O capitão Vincent Kompany, do Manchester City, é descendente de congoleses. O meia Marouane Fellaini, do Manchester United, possui sangue marroquino e o atacante Divock Origi, do Quênia, tem família queniana.
A Albânia, uma das cinco estreantes na Euro, também é uma seleção formada basicamente por migrantes. Mais da metade dos jogadores convocados para a última data Fifa nasceu em outros países.
Culpa, principalmente, da diáspora provocada pelas guerras na região, que levou milhares de albaneses e kosovares (também de origem albanesa) a se espalharem pela Europa.
No exterior, esses descendentes de albaneses cresceram em um ambiente muito mais propício para o surgimento de bons nomes do futebol –foram treinadores por técnicos melhores e enfrentaram adversários mais qualificados.
A abertura política para o trânsito livre de cidadãos europeus pelo continente também é a explicação para a ascensão de outras novidades do futebol continental.
Ou dá para imaginar que a Islândia conseguiria chegar à Euro se seus jogadores passassem a vida toda jogando futebol quatro meses por ano no pouco competitivo futebol da gelada ilha?
Se os islandês vão disputar a competição é porque eles ganharam o mundo e se habituaram a um nível mais alto de futebol. São os casos, por exemplo, do zagueiro Hjörtur Hermannsson, desde os 16 anos no PSV Eindhoven (HOL), e do meia Gylfi Sigurdsson, que atua na Premier League inglesa pelo Swansea City.
O mesmo fenômeno se aplica à Eslováquia. Entre os jogadores da seleção estão atletas de Liverpool (ING), Roma (ITA), Napoli (ITA), Milan (ITA) e Colônia (ALE).
Já nos casos de Gales e da Irlanda do Norte, a migração não precisou ir tão longe. A base das duas seleções atua na vizinha Inglaterra. Mas existem exceções. E pelo menos uma grande exceção.
O meia-atacante Gareth Bale, maior responsável pela classificação galesa, poderia passar a carreira toda sendo idolatrado em algum gigante do futebol da Grã-Bretanha, mas fez questão de deixar a ilha para jogar no Real Madrid.
E, então, dá para falar da Eurocopa-2016 sem discutir os imigrantes?
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