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Rafael Reis

Hong Kong paga pouco, mas está cheio de brasileiros; entenda por quê

Rafael Reis

02/11/2015 08h00

Os salários não são milionários, os times não costumam ir muito longe nas competições continentais e as contratações muitas vezes são feitas na base da amizade. Mas, assim como a China, Hong Kong também se tornou um eldorado para brasileiros.

Só que enquanto o gigante asiático atrai para seu campeonato nomes consagrados como Robinho, Ricardo Goulart e Paulinho, a ex-colônia britânica cravada no território chinês se contenta com jogadores que construíram suas carreiras longe dos grandes clubes.

Gente como o atacante gaúcho Michel Lugo, 28, que defende o Eastern, atual vice-campeão nacional, e está em sua terceira temporada em Hong Kong.

"Vim de olhos fechados para cá porque estava muito complicado no Sul. Está muito difícil jogar em time pequeno no Brasil. Você fica sem receber e só tem emprego no primeiro semestre, quando estão acontecendo os Estaduais", diz o jogador, que passou por Bento Gonçalves e Guarany de Bagé antes de se aventurar no exterior.

Hong Kong

Os salários pagos em Hong Kong são baixos para quem está acostumado com os valores da elite do futebol brasileiro. De acordo com Lugo, "os times pequenos pagam no mínimo US$ 3 mil [cerca de R$ 11,6 mil]. Os grandes, a partir de US$ 5 mil [R$ 19,4 mil]."

"O lado bom da crise no Brasil é que o dólar está alto", diverte-se.

Mesmo não pagando tantos, o campeonato se encheu de brasileiros nas últimas temporadas graças à segurança de salários pagos em dia e contratos de longa atuação.

Atualmente, 33 brasileiros jogam por lá. Muito se levarmos em conta que Hong Kong não passa de uma simples cidade. Todos os nove clubes da primeira divisão contam com pé-de-obra do futebol pentacampeão mundial.

Mas como eles vão parar lá? Empresários, olheiros espalhados pelo mundo? O que funciona em Hong Kong é a boa e velha indicação na base da amizade mesmo.

"Vim para aqui através de um amigo que jogava aqui e indicou a minha contratação", relembra Michel.

"Eu tinha um amigo que veio primeiro e, quando ficou sabendo que o time precisava de um atacante, pediu para eu mandar um DVD", conta o catarinense Giovane, 32, também jogador do Eastern.

Veterano em Hong Kong, ele chegou lá em 2007, após passagens por Marcílio Dias, Brusque e Atlético Ibirama, todos de Santa Catarina, e virou um dos principais nomes do futebol local.

Artilheiro da última temporada, ele chegou a conseguir a tão sonhada transferência para a prima rica China –defendeu o Sunray Cave em 2010.

"Não é uma ponte muito viável a transferência daqui para a China porque eles não olham com bons olhos para o futebol de Hong Kong. De 2007 até agora, o que a gente vê são estrangeiros que conseguem cidadania chinesa e aí se mudam para lá. De estrangeiros normais, só fomos eu e um zagueiro."

Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.