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Palmeiras não é o Real Madrid das Américas, mas quer ser o Bayern do Brasil

Rafael Reis

06/12/2019 04h20

Em 2011/2012, o Bayern de Munique perdeu o Campeonato Alemão para o Borussia Dortmund. Nos anos seguintes, contratou Robert Lewandowski, Mario Götze e Matts Hummels para desmantelar o algoz. Seis temporadas mais tarde, viu o Eintracht Frankfurt se transformar na sensação do futebol germânico. Rapidamente, tratou de tirar o técnico Niko Kovac do adversário.

O comportamento descrito acimam, e engrossado por várias outras contratações realizadas pelos bávaros ao longo desta década, é bastante semelhante à forma de se comportar no Mercado da Bola de um importante clube brasileiro, não?

Crédito: Sergio Moraes/Reuters

O Palmeiras não é o Real Madrid das Américas, apelido jocoso nascido alguns anos atrás como fruto da arrogância que o dinheiro costuma trazer e também da maldade de "antis" invejosos. Mas gosta muito da ideia de ser o Bayern do Brasil.

Assim como o gigante europeu, o clube alviverde usa a abusa do poderio econômico para se reforçar desfalcando adversários diretos menos endinheirados e prefere comprar soluções prontas e já testadas no futebol nacional a desenvolver por si só respostas para seus problemas ou se inspirar naquilo que está sendo feito no exterior.

O início do planejamento para 2020 e a busca pelos substitutos de Mano Menezes (técnico) e Alexandre Mattos (diretor de futebol) deixam bem clara essa filosofia.

O primeiro nome imaginado pela diretoria para dirigir a equipe na próxima temporada foi justamente o do treinador que tem brigado com o Palmeiras pelo posto de segundo colocado do Campeonato Brasileiro.

Além disso, o argentino Jorge Sampaoli (Santos) tem um bônus que enche os olhos da turma alviverde: é tão estrangeiro quanto o português Jorge Jesus, campeão nacional e da Libertadores, mas que o clube dificilmente teria grana para tirar do Flamengo.

Se, neste momento, nomes do Fla são inviáveis, por que não buscar quem ajudou a equipe rubro-negra a alcançar esse patamar, mas que não está mais lá?

Não é coincidência que Rodrigo Caetano, gerente de futebol dos cariocas até a metade do ano passado e atualmente no Internacional, seja um dos preferidos do Palmeiras para o cargo de Mattos (ele próprio, levado ao clube paulista depois de montar um Cruzeiro que fez história no Brasileiro).

A receita que o Palmeiras está adotando não tem nada de errado do ponto de vista ético e nem de validação de resultados. O próprio Bayern venceu as sete últimas temporadas da Bundesliga e conquistou uma Champions nesta década (2012/2013).

No entanto, agora sofre um pouco com o esgotamento dessa fórmula. Como o mercado externo, principalmente o inglês, passou a prestar mais atenção nos treinadores e jogadores germânicos, ele não consegue mais capturar todos os talentos que queria e ocupa uma modesta quarta posição nesta edição do Alemão.

No caso do Palmeiras, há um agravante. Além dos times do exterior, que impossibilitam que ele sonhe com caras como Bruno Guimarães (Athletico-PR) ou Antony (São Paulo), por exemplo, há dentro do próprio país um clube com condições financeiras para bater de frente com ele: o Flamengo.

Por isso, só copiar aquilo que está dando certo por aqui e se alimentar do futebol brasileiro não é suficiente. É preciso mais. reproduzir a criatividade que o rival direto teve para encontrar o técnico Jorge Jesus e se reforçar com nomes pouco óbvios, como Gerson, Filipe Luís e Pablo Marí parece ser um caminho melhor.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.


Rafael Reis