Topo

Rafael Reis

Jesus e Gallardo não inventaram a roda, mas copiaram tudo direitinho

Rafael Reis

22/11/2019 04h20

Jorge Jesus e Marcelo Gallardo são treinadores revolucionários que fazem Flamengo e River Plate, respectivamente, praticarem um futebol jamais visto antes nos gramados da América do Sul.

Nos últimos meses (ou anos, no caso do argentino), têm sido comum encontrar nas redes sociais esses comentários inflamados de torcedores sobre os técnicos finalistas da Libertadores-2019.

Crédito: Montagem

Mas será que eles estão realmente corretos ou são apenas frutos da excitação de quem tem visto seu clube jogar bem, atropelar adversários históricos e brigar pelos títulos mais importantes da temporada?

Não, Jesus e Gallardo não estão reinventando a roda. E isso não é demérito algum. O sucesso por trás de Fla e River é a capacidade dos seus treinadores de copiar e adaptar para o cenário sul-americano as ideias que estão dando certo no primeiro escalão do futebol da Europa.

Conceitos como marcação alta, alternância entre posse e transição rápida, movimentações ofensivas devidamente ensaiadas e recuperação rápida da bola depois de ser desarmado já estão no vocabulário dos Barcelona, Real Madrid e Manchester City da vida há um bom tempo.

Eles são frutos de uma inventiva geração de treinadores que despontou no cenário internacional a partir de meados dos anos 2000 e que até hoje continua ditando as regras do jogo.

Os ofensivos Pep Guardiola (Manchester City) e Jürgen Klopp (Liverpool) e os defensivos José Mourinho (Tottenham) e Diego Simeone (Atlético de Madrid) são os responsáveis diretos pelo futebol que a elite da bola pratica atualmente.

Um futebol que, por inúmeros motivos, como falta de atualização dos treinadores, imediatismo na busca pelos resultados e material humano de menor capacidade técnica, ainda é raro de se ver nos times sul-americanos. Mas que enche o tanque de combustível de Flamengo e River Plate.

Jesus possui ainda dois méritos extras. Adaptou-se instantaneamente ao Brasil e, assim, conseguiu derrubar o preconceito contra técnicos estrangeiros que assola o país. Além disso, está acabando com a obsessão nacional de poupar excessivamente os jogadores para as partidas mais importantes.

O treinador do River também tem algo que é só seu. Para sobreviver cinco anos consecutivos no comando do mesmo time, ainda mais em uma equipe sul-americana, é preciso saber administrar egos, controlar perfeitamente o vestiário e fazer política com os dirigentes.

E por isso, não por serem revolucionários que estão desenvolvendo uma evolução na forma de se jogar futebol, Jorge Jesus e Marcelo Gallardo precisam ser louvados.

Flamengo e River Plate decidem amanhã, em Lima (Peru), qual é o melhor time da América do Sul neste ano. Os brasileiros, campeões em 1981, buscam o segundo título de Libertadores de sua história. A equipe argentina, vencedora em 1986, 1996, 2015 e 2018, quer ser penta.


Mais Opinião

– Futebol só finge que não tolera o racismo, mas adora um preconceito
– Por que as zebras estão fazendo a festa nesta temporada na Europa?
– "Efeito Jesus" não pode fazer brasileiros buscarem estrangeiros medíocres
– Sucesso de Jorge Jesus prepara terreno para técnico estrangeiro na seleção

 

Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.