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Rafael Reis

Deserções, derrotas a rodo e goleadas: como é a seleção de Cuba?

Rafael Reis

08/07/2019 04h00

Três jogos, três derrotas. Uma goleada por 7 a 0 aplicada pelo México, outra do mesmo placar contra o Canadá e um 3 a 0 ante Martinica. Saldo final: nenhum gol marcado e 17 sofridos. Essa foi a campanha de Cuba na Copa Ouro-2019.

A seleção da ilha caribenha foi a última colocada dentre as 16 participantes do torneio continental das Américas Central e do Norte. A competição, disputada nos EUA, na Costa Rica e na Jamaica, chegou ao fim no último domingo.

Crédito: Divulgação

Os desastrosos resultados cubanos em um torneio que está longe de reunir a nata do futebol mundial mostram como o país, apesar de estar cada vez mais apaixonado pelo jogo com a bolas nos pés, simplesmente não consegue se desenvolver na modalidade.

E boa parte da responsabilidade por essa estagnação (ou até mesmo retração do esporte na nação caribenha) está ligada às restrições impostas por seu regime socialista.

Cuba terminou a Copa Ouro com apenas 18 dos 23 jogadores convocados. O capitão Yasmani López aproveitou a viagem aos Estados Unidos para fugir da concentração e pedir asilo político ao governo de Donald Trump antes mesmo de a bola rolar. Outros quatro jogadores seguiram o mesmo caminho durante a competição.

Desde 2010, nada menos que 34 atletas de futebol aproveitaram torneios disputados por Cuba no exterior para desertar.

Por conta desse abandono em massa, a seleção está sempre tendo de começar do zero e nunca consegue montar uma base de jogadores experientes e já suficientemente testados em competição internacionais.

Na Copa Ouro, a idade média da equipe dirigida pelo técnico Raúl Mederos era de apenas 24 anos e só dois jogadores tinham mais de 20 jogos pela seleção –um deles era justamente López, que liderou as deserções.

Cuba até conta com atletas de nível suficiente para levar o país além da 175ª colocação que ocupa hoje no ranking da Fifa, mas eles não estão à disposição devido às barreiras políticas existentes.

O meia-atacante Onel Hernández, do Norwich, da elite inglesa, até chegou a ser pré-convocado no ano passado, mas não pode se unir à seleção por não atender as exigências do governo –atletas só podem atuar no exterior se forem em um esquema semelhante ao que era praticado "Mais Médicos", com o governo ficando com a maior parte do salário.

O volante Osvaldo Alonso, capitão do Minnesota United (EUA), o lateral esquerdo Jorge Corrales, do Chicago Fire (EUA), o meia-atacante César Munder, revelação da Universidad Católica (CHI), e o atacante Samuel Armenteros, do Benevento (ITA), são outros nomes que poderiam reforçar a equipe se não houvesse essa restrição.

Mas, por enquanto, a seleção cubana tem de se contentar com alguns poucos estrangeiros que atuam em ligas menores da América Central graças a esse regime de parceria com o governo socialista, caso de cinco jogadores que atuam na República Dominicana, dois na Guatemala e um no Panamá.

Curiosamente, Cuba já tem no seu currículo uma participação em Copa do Mundo. Em 1938, muito antes da revolução liderada por Fidel Castro e Che Guevera, o país disputou o Mundial da França e foi até as quartas de final –terminou na sétima colocação.

Oito décadas depois, a classificação para o torneio é um sonho dos mais distantes. Nas eliminatórias para a Rússia-2018, os cubanos não chegaram nem à fase de grupos. Sua participação no qualificatório durou apenas duas partidas. Dois empates contra Curaçao foram suficientes para eliminá-los.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.