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Rafael Reis

Nojo de homossexuais? Como polêmica marcou carreira de técnico do Paraguai

Rafael Reis

16/06/2019 04h00

Ex-comandante de times importantes do futebol espanhol, com Sevilla, Athletic Bilbao e Celta, o técnico da seleção paraguaia na Copa América, Eduardo Berizzo, convive há quase duas décadas com o rótulo de homofóbico.

O ex-zagueiro argentino é uma espécie de inimigo número 1 dos homossexuais no futebol desde quando ainda era jogador profissional e anunciou sua saída do Olympique de Marselha para defender o River Plate, em 2000.

Crédito: Albert Gea/Reuters

Na época, o jornal mexicano "La Crónica de Hoy" publicou uma entrevista com o então jogador explicando os motivos que o levaram a deixar a França depois de apenas seis meses para retornar à América do Sul.

"O que existe no futebol francês é monte de bichas. Há muitos jogadores homossexuais por lá. Eles te provocam, relam nas suas pernas e tocam no seu bumbum para ver se você dá algum sinal [de interesse]. Tenho nojo de compartilhar banho com um homossexual que olha para o traseiro com desejo e fica emocionado quando te vê pelado."

Mesmo em uma época anterior às redes sociais, o depoimento viralizou tanto que entrou na lista de "frases do ano" de 2000 publicada pelo jornal inglês "Daily Telegraph".

O problema é que Berizzo sempre negou ser o autor dessas palavras cheias de ódio e preconceito. No dia seguinte à publicação da entrevista, enviou uma nota ao "Clarín", principal jornal da Argentina, para rebatê-la.

"Isso é uma barbaridade, algo grave. Essa entrevista nunca existiu. Não tenho nenhum problema em ter companheiros homossexuais de time. Cada um faz o que quer de sua vida privada."

Apesar da repercussão do caso na época, nada ficou provado. Até hoje não se sabe se Berizzo realmente deu a polêmica entrevista ao jornal mexicano ou se disse a verdade quando afirmou jamais ter proferido as frases homofóbicas.

O ex-zagueiro continuou jogando até 2006, mas nunca mais retornou ao futebol francês. Em 2007, virou auxiliar de Marcelo Bielsa na seleção chilena. Três anos depois, estreou em voo solo como técnico do Estudiantes.

Depois de fazer sucesso pelo O'Higgins e ser campeão chileno, fez as malas rumo à Espanha. Durante três temporadas, comandou o Celta. No Athletic Bilbao e no Sevilla, só ficou por meio ano –foi diagnosticado com câncer de próstata durante a passagem pelo segundo.

A chance de treinar a seleção paraguaia, 36ª colocada no ranking da Fifa e que não conseguiu se classificar para as duas últimas edições da Copa do Mundo, veio em fevereiro. Berizzo foi contratado para substituir o colombiano Juan Carlos Osorio, que pediu demissão depois de cinco meses e apenas um jogo no cargo.

A Copa América-2019 começou na última sexta-feira e vai até o dia 7 de julho. O Paraguai, campeão em 1953 e 1979, está no mesmo grupo de Qatar, Argentina e Colômbia.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.