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Rafael Reis

Qual era o time de Hitler e de outros ditadores famosos?

Rafael Reis

14/04/2019 04h00

Futebol e política sempre se misturaram. E uma prova disso é como os regimes autoritários do século passado e também os do início dos anos 2000 sempre se aproveitaram da popularidade da modalidade para agradar a população e se manter no poder.

O que não faltam são exemplos dessa estratégia. Em 1934, a Itália fascista recebeu a Copa do Mundo. Em 1978, foi a vez da Argentina, em meio ao regime militar, ser sede da competição. Coincidência ou não, ambas foram campeãs das edições que organizaram.

Mas, quais eram os times de coração dos ditadores mais famosos do planeta? É essa pergunta que o "Blog do Rafael Reis" responde logo abaixo:

ADOLF HITLER

Crédito: Reprodução

O clube que sofre com a fama de ter tido como torcedor o pai do nazismo e um dos maiores genocidas da história é o Schalke 04. Na verdade, não há nenhuma prova histórica que Adolf Hitler realmente simpatizava com o time de Gelsenkirchen e nem que ele curtia futebol, mas seu governo tratou de usar a imagem da equipe nas propagandas do Terceiro Reich. Isso porque o Schalke 04 ganhou seis títulos nacionais durante o governo nazista (1934, 1935, 1937, 1939, 1940 e 1942). Além disso, foi classificado por Hitler como um representante real dos arianos, já que foi fundado por mineiros germânicos, ao contrário de Borussia Dortmund e Bayern de Munique, de raízes e tendências judias.

BENITO MUSSOLINI

Crédito: Getty Images

Ao contrário de Hitler, seu aliado italiano na Segunda Guerra Mundial realmente gostava de futebol. Mussolini fez da modalidade um dos principais instrumentos de propaganda do regime fascista e até organizou uma Copa do Mundo (1934). O ditador era torcedor do Bologna, clube que ganhou seis dos seus sete títulos nacionais durante o fascismo. Mas, uma vez no governo, adotou também a Lazio como uma espécie de segundo clube e passou a frequentar o estádio para acompanhar a equipe. Não à toa, até hoje a Lazio é vista como um time ligado à extrema-direita na Itália.

JOSEF STÁLIN

Crédito: Reprodução

Líder da União Soviética do começo da década de 1920 até 1953, ano de sua morte, Stálin também se apoiou no futebol para permanecer no poder. Apesar de não ser um fanático pela modalidade, o chefe do governo da URSS tinha seu time de preferência: o Dínamo Moscou, equipe fundada no início do regime socialista e que pertencia ao Ministério do Interior e à KGB, a temida polícia secreta. Impulsionado pelo Stálin, o Dínamo foi o grande clube soviético até o começo dos anos 1960. Entre 1933 e 1963, conquistou 11 títulos nacionais. Depois, só faturou mais uma taça de primeira divisão, em 1976.

FRANCISCO FRANCO

Crédito: Reprodução

Líder da Espanha durante quase 40 anos, o general que permaneceu no poder entre 1936 e 1975 era originalmente torcedor do Atlético de Madri e fez do clube um instrumento semioficial do governo nos primeiros anos do franquismo. No entanto, durante a década de 1940, o líder espanhol "virou a casaca": ele passou a adotar o Real Madrid, ajudou na construção do estádio Santiago Bernabéu e deu uma forcinha no imbróglio da contratação de Alfredo di Stéfano. Durante a ditadura de Franco, o Real acabou com um jejum de duas décadas sem taças e montou a equipe que venceu as cinco primeiras edições da Liga dos Campeões da Europa.

AUGUSTO PINOCHET

Crédito: AP

General do exército chileno, governou o país entre 1973 e 1990 e liderou uma ditadura que fez mais de 40 mil vítimas, entre mortos, refugiados, desaparecidos e pessoas que foram torturadas. Assim como aconteceu com Franco, na Espanha, e Mussolini, na Itália, Pinochet também tinha um time de coração (o Santiago Wanderers), mas acabou escolhendo outro para ser adotado pelo governo. No caso chileno, o Colo-Colo, que recebeu incentivos estatais e teve Pinochet como presidente honorário de 1984 até 2015, quando os sócios o destituíram do cargo.

FIDEL CASTRO

Crédito: Charles Platiau/Reuters

Como o futebol cubano é incipiente internacionalmente, o revolucionário que se tornou líder cubano durante praticamente toda a segunda metade do século passado precisou encontrar um clube no exterior para torcer. E o escolhido por Fidel foi o Arsenal. O líder socialista chegou a ser convidado para ir ao visitar o antigo estádio de Highbury, em Londres, e assistir a um jogo do clube na temporada 1994/95, mas recusou a proposta alegando motivos de segurança.

ANTÓNIO DE OLIVEIRA SALAZAR

Crédito: AFP

O ditador português entre 1932 e 1968 tinha um regime que se apoiava na popularidade dos "Três F": Futebol, Fado e Fátima. Mas, curiosamente, Salazar nunca curtiu muito futebol. Até por isso, não se sabe muito exatamente se ele tinha um time de coração. Fato é que, dentro de Portugal, a maioria das pessoas associa o regime militar do país com o sucesso que o Benfica experimentou no período, sobretudo na década de 1960. No entanto, ex-jogadores da equipe sempre negaram qualquer envolvimento de Salazar com o clube.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.