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Rafael Reis

O que o sucesso de Gabigol no Santos diz sobre nível do futebol brasileiro

Rafael Reis

09/03/2018 04h00

Quatro gols nos primeiros cinco jogos que disputou. Um papel de protagonista que não exercia há um ano e meio. Elogios, muito elogios para esquecer o passado recente de críticas vorazes.

O início de Gabigol no Santos é de empolgar, ainda mais quando comparado ao que ele viveu no futebol europeu.

Em 16 meses no Velho Continente, o atacante passou por dois clubes (Inter de Milão e Benfica), participou de 15 jogos oficiais e marcou dois gols. No total, permaneceu apenas 347 minutos em campo, o equivalente a pouco menos de quatro partidas completas.

Como explicar que um jogador que tinha até pouco tempo um desempenho tão decepcionante e foi completamente descartado pelo Benfica conseguiu se transformar um dos grandes nomes do Campeonato Paulista?

Muita gente, inclusive companheiros de Gabigol no Santos, acha que essa diferença de performance é uma prova que o atacante só não deu certo na Europa porque recebeu poucas oportunidades por lá.

Mas por que será mesmo que nenhum dos quatro técnicos que ele teve do outro lado do Atlântico (Frank de Boer, Stefano Vecchi, Stefano Pioli e Rui Vitória) resolveu apostar no novo velho xodó da torcida santista?

O fracasso de Gabigol no futebol europeu seguido de um ótimo início em sua volta ao Brasil nos traz uma simples (e triste constatação): em termos técnicos, nosso futebol nunca esteve tão distante do praticado nos principais gramados do mundo.

Quem tem o costume de assistir aos jogos da Liga dos Campeões e também às ligas nacionais como a inglesa, a alemã e a espanhola percebe nitidamente isso. O esporte por aqui tem pouco ao ver com o jogador por lá.

Gabigol não é o único sintoma dessa diferença.

Ganso, tratado como um maestro (ainda que inconstante) aqui no Brasil, não tem espaço nem no banco de reservas do Sevilla. O argentino Calleri, endeusado em sua passagem pelo São Paulo, foi um fiasco no West Ham e hoje atua no nanico Las Palmas, que luta contra o rebaixamento na Espanha. E Luan, unanimidade no Grêmio e craque da Libertadores, só continua por aqui porque os interessados em contratá-lo não são times de ponta da Europa.

Os três jogadores citados acima, assim como Gabigol, são ruins? É claro que não. Todos eles têm um nível técnico acima da média do futebol brasileiro. Por isso, fizeram (e fazem) tanto sucesso por aqui.

Mas quando falamos de futebol europeu, pelo menos da elite do Velho Continente, o nível de comparação é outro. Para se destacar por lá, é preciso jogar muito mais bola. Bola que a maioria dos nomes que brilha nos gramados do Brasil simplesmente não tem para apresentar.

Gabigol tem só 21 anos, é talentoso e uma carreira inteira pela frente para desenvolver seu jogo e conseguir espaço em um time do primeiro escalão da Europa. Só que, por enquanto, seu futebol não é suficiente para vestir a camisa da Inter de Milão, do Benfica e de quase nenhum desses times que você está acostumado a ver só pela TV.

Lembra daquele ditado "em terra de cego quem tem um olho é rei"? Gabigol é rei do Santos e faz parte da família real do futebol brasileiro. O que isso significa lá fora? Quase nada.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.