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Rafael Reis

Por que o México atrai jogadores famosos da Europa, e o Brasil, não?

Rafael Reis

15/09/2017 04h00

Imagine o capitão do Japão trocando o Milan pelo Palmeiras. Ou um centroavante da seleção francesa deixando a Europa para jogar no Corinthians. Talvez até um jogador formado nas categorias de base do Real Madrid desembarcando no Rio para vestir a camisa do Flamengo.

Negociações como essas parecem distantes da realidade brasileira? Pode até ser. No entanto, são corriqueiras em outro país do futebol latino-americano.

A temporada 2017 do Campeonato Mexicano conta com a participação de 193 jogadores estrangeiros. Desses, pelo menos oito fogem do padrão de atletas argentinos, uruguaios, colombianos ou de qualquer outro país das Américas com o qual estamos acostumados.

A primeira divisão do México tem um atleta de Gana (Clifford Aboagye, do Atlas), outro de Cabo Verde (Djaniny) e mais seis estrangeiros de nacionalidades não-americanas que já passaram pela elite do futebol da Europa.

Só o Tigres conta com dois deles: o centroavante André-Pierre Gignac, que disputou a Copa do Mundo-2010 e a Eurocopa-2016 pela seleção francesa, e o zagueiro Thimotée Kolodziejczak, também francês e ex-jogador de Sevilla, Lyon e Borussia Mönchengladbach.

Já o Pachuca, atual vencedor da Liga dos Campeões da Concacaf, tem em seu elenco o astro jáponês Keisuke Honda, que até a última temporada europeia vestia a camisa 10 do tradicional Milan.

Os espanhóis Edgar Méndez e Abraham González, com passagens pelas bases de Real Madrid e Barcelona, respectivamente, defendem o Cruz Azul e o Pumas.

Por fim, o Atlas tem a opção de escalar em suas partidas um jogador inglês, o meia Ravel Morrison, revelado pelo Manchester United, com passagem pelo West Ham e que está emprestado pela Lazio.

Mas, afinal, por que o futebol mexicano consegue atrair esse tipo de jogador, e o brasileiro, não? Será que é tão impossível assim vislumbrar um Honda ou um Gignac atuando por aqui?

A primeira parte da resposta para essas perguntas passa por uma constatação: os clubes mexicanos têm hoje mais dinheiro para gastar do que os times do futebol pentacampeão mundial.

Ao contrário do Brasil, onde as equipes de futebol são associações esportivas sem fins lucrativos, os clubes do México adoram um modelo de administração semelhante ao das principais ligas europeias. Ou seja, possuem donos. E donos muito poderosos, como o Grupo Televisa (sim, aquele mesmo das novelas mexicanas), proprietário do América, e Carlos Slim, o sexto homem mais rico do planeta, que até a semana passada era acionista do Pachuca.

Isso proporciona às equipes mexicanas um poderio de investimento sem comparação com o restante do continente. De acordo com o jornal "Guardian", os clubes do México gastaram ao longo dos últimos cinco anos US$ 425 milhões em contratações (R$ 1,3 bilhão), 26% a mais que os times brasileiros.

É aí que entra a segunda diferença de comportamento entre os times dos dois países.

Enquanto os brasileiros costumam concentrar esse investimento em reforços locais (ou no máximo atletas de vizinhos, como Argentina, Paraguai e Uruguai), o México, que não possui uma diversidade tão grande assim de bons nomes dentro do seu próprio país, diversifica mais a nacionalidade das suas contratações.

É por isso que 39% de todos os atletas inscritos no Campeonato Mexicano são estrangeiros. No Brasileiro, os atletas gringos não chegam a 10% do total. E, com raríssimas exceções, como o turco Kazim (Corinthians) e o alemão Alexander Baumjohan (Coritiba), eles são sul-americanos.

Por fim, há mais um fator que ajuda o México a atrair jogadores que o Brasil não consegue recrutar para o seu campeonato: a geografia.

Vale lembrar que os mexicanos fazem fronteira com os Estados Unidos, um país com o qual os europeus estão muito mais acostumados do que Paraguai, Uruguai, Argentina e Bolívia, alguns dos vizinhos brasileiros.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.