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Rafael Reis

1º jogador a assumir ser gay sofreu também com racismo e se suicidou

Rafael Reis

06/06/2017 07h10

O post publicado pelo lateral direito Patric Gabarrón e pelo atacante Keita Balé em suas respectivas redes sociais no último domingo pode até não significar uma saída pública do armário, mas foi suficiente para levantar a questão da homossexualidade no mundo do futebol. Não é à toa que a comunidade internacional da bola reagiu com surpresa à foto com os dois jogadores da Lazio de mãos dadas e um emoji de coração logo abaixo da imagem, ainda que não haja nenhuma confirmação de que eles são realmente um casal.

Afinal, na história do futebol masculino, são raros os casos de atletas conhecidos internacionalmente que revelaram ao público serem gays. O meia norte-americano Robbie Rogers, do Los Angeles Galaxy, é um deles. O alemão Thomas Hitzlsperger, aposentado desde 2013, é outro exemplo.

Os dois, assim como outros jogadores que sempre negaram a homossexualidade, mas que receberam durante a carreira esse rótulo relataram terem sofrido preconceito dentro e fora de campo.

Mas, dentre todos os atletas reconhecidamente gays, ninguém sofreu mais que o inglês Justin Fashanu, o primeiro jogador de futebol de alguma relevância a tornar pública sua homossexualidade.

Filho de imigrantes nigerianos e guianeses, o atacante ficou conhecido na Inglaterra em 1980 por um golaço marcado com a camisa do Norwich contra o poderoso Liverpool. Contratado pelo Nottingham Forest no ano seguinte, tornou-se o primeiro negro a protagonizar uma transferência na casa de 1 milhão de libras (R$ 4,3 milhões, na cotação atual) na história da Inglaterra.

Mas o auge da sua carreira durou pouco. Alvo de racismo, Fashanu também começou a ser perseguido por torcedores e jornalista devido a rumores de que abusava da vida noturna e que frequentava boates gays.


Em 1990, aos 29 anos e tendo passado por 11 clubes diferentes, o atacante tomou a decisão mais corajosa de sua carreira. Em entrevista ao tabloide inglês "The Sun", o inglês revelou sua homossexualidade e contou várias histórias envolvendo da época.

Mais tarde, Fashanu admitiu que recebeu dinheiro do jornal para sair do armário e também que inventou boa parte dos casos relatados naquela matéria. Por fim, também reclamou que a declaração prejudicou muito a sequência de sua carreira.

Com portas fechadas nos principais clubes do seu país, o atacante começou a perambular por clubes e mercados menos importantes. O inglês jogou no Canadá, na Escócia, na Suécia, na Austrália e nos Estados Unidos.

Em 1998, um ano depois de deixar os gramados, a história do primeiro jogador de futebol a tornar pública sua homossexualidade chegou ao derradeiro e mais triste capítulo.

Acusado de abuso sexual por um garoto de 17 anos e com sérios problemas judiciais, Fashanu decidiu encerrar sua vida. Ao lado do corpo enforcado, encontrado em uma garagem, estava uma carta, a última mensagem do histórico atacante para o mundo.

"Me dei conta de que eu já havia sido julgado. Não quero mais ser uma vergonha para meus amigos e minha família. Espero que Jesus me dê boas vindas e que finalmente eu encontre a paz."


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.