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Rafael Reis

1 em cada 5 jogadores da Copa Africana nasceu em outro continente

Rafael Reis

14/01/2017 04h00

Eleito o melhor jogador africano de 2016, o meia-atacante Ryiad Mahrez, do Leicester, nasceu em Sarcelles, no subúrbio de Paris. Vencedor do prêmio no ano anterior, Pierre-Emerick Aubameyang, estrela do Borussia Dortmund, é natural de Laval, cidade no noroeste da França.

O camisa 7 da seleção argelina e o número 9 de Gabão são apenas dois dos 80 jogadores inscritos na Copa Africana de Nações que não nasceram no continente.

Aubameyang

Não, você não leu errado, nada menos do que 21,7% de todos os atletas que começam a disputar neste sábado a competição africana, no Gabão, são oriundos de outros cantos do mundo.

A lista é realmente enorme. Só de jogadores nascidos na França são 69. Suécia, Portugal, Espanha, Bélgica, Suíça, Holanda, Inglaterra e até Canadá também têm representantes no torneio.

A situação é tão curiosa que há seleções em que os atletas nascidos no próprio país nem são maioria. Marrocos, por exemplo, conta com 16 jogadores de outros continentes. Na Argélia, de Mahrez, os "estrangeiros" são 13 dos 23 convocados.

Apenas três dos 16 times da Copa Africana (Zimbábue, Egito e Uganda) contam com elencos formados exclusivamente por atletas nascidos no próprio continente.

A presença massiva de europeus e até mesmo de um americano na competição é reflexo das questões geopolíticas e das fortes correntes migratórias que marcaram a história africana nas últimas décadas.

Mahrez, Aubameyng, os irmãos Ayew (Gana), o atacante Moussa Sow (Senegal), o zagueiro Mehdi Benatia (Marrocos), o meia Serge Gakpé (Togo) e tantos outros são filhos e netos de africanos que deixaram o continente para fugir de guerras ou em busca de melhores condições de vida para suas famílias.

Alguns desses estrangeiros chegaram inclusive a defender na juventude as seleções dos países onde nasceram.

O volante Mario Lemina, da Juventus, companheiro de Aubameyang no Gabão, foi campeão mundial sub-20 com a França em 2013. Já o meia-atacante Mehdi Carcela-González passou por todas as seleções de base da Bélgica e chegou a disputar dois amistosos com o time principal antes de passar a defender Marrocos.

A escolha de qual seleção defender, na maioria dos casos, é uma decisão profissional, movida mais por oportunidades futuras do que pelo coração.

Lemina e Carcela-González, por exemplo, sabiam que teriam chances bem maiores de construir uma história nas seleções dos países dos seus antepassados, onde a concorrência por uma vaga no time nacional é bem menor.

Mas há exceções. E Aubameyang é uma delas. O centroavante do Dortmund era apto a jogar pelas seleções de França, onde nasceu, Itália, onde cresceu, e Espanha, país de sua mãe, mas preferiu vestir a camisa do Gabão em homenagem a seu avô.

Hoje, é uma das estrelas da Copa Africana das Nações, ou melhor, da Copa dos migrantes.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.