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Rafael Reis

Nos anos 1980, lesão salvou astro peruano de acidente aéreo

Rafael Reis

30/11/2016 06h00

Foi com uma cara de poucos amigos que Juan Reynoso se despediu dos companheiros de Alianza Lima na tarde do dia 6 de dezembro de 1987.

Prestes a completar 17 anos, o jovem zagueiro havia surgido como um fenômeno na equipe peruana. Recém-promovido para a equipe adulta, queria de qualquer jeito viajar para enfrentar o Deportivo Pucallpa. Mas uma lesão muscular fez com que ele fosse cortado.

Mal sabia ele que aquela contusão acabaria salvando sua vida.

No dia seguinte, o Alianza venceu e deu mais um passo rumo à sua ambição de acabar com o jejum de nove anos sem ser campeão peruano. Só que o Fokker que deixou Pucallpa para levar o time de volta à capital peruana nunca chegou a Lima.

O avião caiu no mar, a poucos quilômetros do aeroporto onde deveria pousar. O desastre matou 43 das 44 pessoas a bordo, entre elas o goleiro José González Ganoza, tio do atacante Paolo Guerrero, do Flamengo. O piloto foi o único tripulante que se salvou.

Do elenco do Alianza Lima, sobraram só quatro jogadores. Além de Reynoso, Benjamín Rodríguez, Juan Illescar e César Espino escaparam por estarem suspensos ou machucados.

Juntos com vários juniores e alguns atletas emprestados pelo Colo Colo, eles não tiveram força (principalmente psicológica) para dar ao clube o título peruano daquele ano.

Na temporada seguinte, receberam um reforço de peso. Teófilo Cubillas, o maior nome da história do futebol peruano, topou abandonar a aposentadoria para jogar e treinar gratuitamente o Alianza. Foi sua forma de ajudar na reconstrução do clube.

Mesmo quase 30 anos depois do acidente, Reynoso não gosta de falar sobre aqueles que foram os dias mais tristes de sua vida. O ex-zagueiro é, inclusive, bem avesso a conversar com jornalistas.

O sobrevivente da tragédia construiu uma carreira de respeito e foi um dos principais jogadores peruanos dos anos 1990. Além de Alianza Lima, defendeu o peruano Universitario, o espanhol Sabadell e os mexicanos Necaxa e Cruz Azul, clube onde atuou por mais de 200 partidas e vestiu a braçadeira de capitão.

Aposentado desde 2004, tornou-se um vitorioso técnico no país onde nasceu. Já são três títulos nacionais em nove anos de carreira: 2007, pelo Coronel Bolognesi, 2009, pelo Universitario, e 2015, pelo Melgar.

Reynoso continua à frente do Melgar, um dos quatro semifinalistas do Campeonato Peruano. Nesta quarta-feira, enfrenta o Universitario em busca de mais uma decisão.

E tudo isso graças a uma lesão. Uma lesão que salvou sua vida.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.