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Rafael Reis

Vilão em 1996, Kanu passou por cirurgias cardíacas e brilhou em time falido

Rafael Reis

31/07/2016 07h00

A seleção inicia na próxima quinta-feira mais uma tentativa de conquista da inédita medalha ouro. Mas, exatos 20 anos atrás, o sonho olímpico do futebol brasileiro sofreu uma de suas derrotas mais dolorosas.

O Brasil tinha um timaço nos Jogos de Atlanta-1996: Dida, Aldair, Roberto Carlos, Bebeto, Rivaldo e um Ronaldo prestes a se transformar no "Fenômeno". Mas eles sucumbiram a um atacante magrelão, desengonçado, com problemas cardíacos e que se tornaria ídolo de um time falido.

Foi Nwankwo Kanu que fez os brasileiros se arrepiarem com a expressão "gol de ouro", método de desempate usado no torneio olímpico daquele ano, no qual o time que marcar primeiro na prorrogação fica com a vitória.

Em 31 de julho de 1996, 0 atacante, que então tinha 19 anos e defendia o Ajax, definiu a semifinal olímpica contra o Brasil aos 4 minutos da prorrogação. Detalhe: já havia sido dele o gol aos 45 minutos do segundo tempo, que havia decretado o empate por 3 a 3 no tempo normal e a necessidade do tempo extra.

Estrela da conquista do título olímpico da Nigéria, que ainda bateria a Argentina na decisão, Kanu descolou uma transferência para a Inter de Milão. Foi graças aos médicos do clube italiano que ele descobriu que possuía um grave problema cardíaco.

O atacante passou por uma cirurgia para a troca da válvula aórtica em novembro de 1996 e ficou parado até abril do ano seguinte. Mas foi só em 1999, quando acertou com o Arsenal, que voltou a ter uma vida normal de jogador profissional de futebol.

Na Inglaterra, Kanu se encontrou. Em cinco temporadas no clube londrino, marcou 44 gols e conquistou dois títulos da Premier League.

Do Arsenal, foi para o West Bromwich e, depois, para o Portsmouth, último clube de sua carreira. O atacante jogou no Pompey entre 2006 e 2012, fez o gol do histórico título da Copa da Inglaterra de 2008 e viveu de perto o processo de falência que quase fez o time fechar as portas.

Atolado em problemas financeiros, o time precisou vender jogadores, atrasou salários e chegou e fazer dois pedidos de falência. O próprio Kanu foi embora sem receber uma dívida de 3 milhões de libras. Recuperado, o Porsmouth joga hoje a quarta divisão inglesa.

Aposentado, o atacante precisou passar em 2014 por uma nova cirurgia de coração.

Atualmente, aos 39 anos, dirige um instituto filantrópico para crianças africanas com problemas cardíacos, além de uma agência de modelos e uma escolinha de futebol no Canadá. Também é embaixador da Unicef.

Mas, para o torcedor brasileiro, Kanu é e sempre será o algoz da seleção nos Jogos Olímpicos de Atlanta.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.