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Rafael Reis

Eurocopa tem pior média de gols em 24 anos. De quem é a culpa?

Rafael Reis

23/06/2016 06h00

Não se sinta um estranho caso você esteja achando as partidas da Eurocopa-2016 um tanto quanto sonolentas e chatas.

Encerrada na quarta-feira, a primeira fase da competição que reúne as melhores seleções do Velho Continente teve a média de gols mais baixa dos últimos 24 anos.

Os 36 jogos válidos pela fase de grupos registraram apenas 69 gols. Isso significa que cada partida da Euro até agora teve em média apenas 1,92 gol.

Lukaku

Trata-se da marca mais baixa desde a Euro-1992, que teve só 1,75 gol por jogo na primeira fase. Mas, na aquela época, só oito times disputavam o torneio, e a etapa de grupos se restringia a 12 partidas.

E como todo matemático sabe, quanto menor a amostragem, maior a chance de ela resultar em um média atípica, já que os resultados incomuns acabam tendo um peso maior.

Na Euro-2016, a primeira fase contou com o triplo de partidas, 36. Dessas, quase 40% tiveram no máximo um gol. Foram quatro 0 a 0 e dez vitórias pelo placar mínimo, 1 a 0.

Quer outros dados impressionante? Apenas cinco seleções (País de Gales, Espanha, Croácia, Hungria e Islândia) balançaram as redes em todas as apresentações. E, depois de 16 anos, uma seleção (a Ucrânia) despediu-se do torneio sem um mísero golzinho.

A escassez de gols da Euro fica ainda mais evidente quando comparada a de outros torneios recentes entre seleções.

A edição anterior da competição, em 2012, teve média de 2,5 gols por partida na primeira fase.  Já a última Copa do Mundo, dois anos atrás, registou 2,83 gols por jogo na etapa de grupos.

A pesada redução nos gols da Euro coincide com o aumento do número de seleções participantes da competição (de 16 para 24).

A medida não tornou as partidas menos competitivas e ampliou a quantidade de goleadas, como muitos poderiam imaginar. O efeito da medida adotada pela Uefa foi exatamente o contrário.

O novo formato permitiu que quatro dos seis terceiros colocados dos seus grupos avançassem para as oitavas de final. Com essa possibilidade, para muitas seleções, não perder passou a ser mais importante que ganhar. Então, dá-lhe retranca.

Portugal, por exemplo, avançou de fase sem vencer nenhuma partida (foram três empates). Todos os times que chegaram a quatro pontos (uma vitória e um empate) também passaram para as oitavas.

Não é de hoje que essa fórmula de disputa rende placares minguados. A Copa do Mundo de pior média de gols da história, a de 1990 (2,21 gol por jogo), tinha a mesma configuração (a diferença é que a vitória, na época, valia só 2 pontos).

Além do formato, o momento atual do futebol europeu também favorece a escassez de gols. O sucesso do Atlético de Madri, vice da Liga dos Campeões em duas das três últimas temporadas, e o improvável título inglês conquistado pelo Leicester nos fizeram lembrar que basta marcar um gol a mais que o adversário para derrotá-lo.

Ambos os times preferem entregar a possa de bola para o rival e ficam encolhidinhos na defesa à espera de uma chance para matar o jogo, no contra-ataque ou na bola parada.

Um velho estilo de praticar futebol que voltou à moda, inspira as seleções da Euro e ajuda a entender porque achar modorrentos os jogos da aclamada competição continental virou algo comum.


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Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.