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Rafael Reis

Torcedores: Paixão de Filipy pelo United sobreviveu graças a fitas de VHS

Rafael Reis

06/03/2016 08h10

Itacuruba é uma cidade com cerca de 5 mil habitantes cravada no sertão de Pernambuco e que não conhecia internet e nem TV a cabo até 2008. Mas nem essas limitações impediram que um de seus filhos, Filipy Bebeto, 21 anos, virasse torcedor do Manchester United.

O hoje estudante de direito conheceu o time inglês em um "jogo perdido" que estava passando na Band durante sua infância. Ficou encantado com Beckham, Van Nistelrooy e aqueles caras que vestiam vermelho.

Sem acesso a internet e TV por assinatura, Filipy passou anos correndo atrás de uma forma de descolar informações e partidas da sua paixão internacional. O método mais eficaz que encontrou foi um amigo de outra cidade que gravava alguns jogos em fitas VHS e enviava para ele.

Filipy

"Às vezes, eu só conseguia ver o jogo do Manchester uma semana depois dele ter acontecido. Mas, como eu não sabia o resultado, era emocionante do mesmo jeito", conta.

Pelo menos a final da Liga dos Campeões da Europa de 2008, contra o Chelsea, ele conseguiu assistir ao vivo pela TV. Aliás, ele deu um jeito de ver ao vivo.

"O problema é que eu tinha prova de química naquele dia. Entreguei a prova em branco e fui correndo para a casa. Mas minha tia estava vendo novela e não quis mudar de canal. Eu tinha 13 anos, mas tive que ver o jogo no bar."

"Quando o jogo terminou, fiquei correndo na avenida, gritando 'é campeão' e rodando minha camisa, que era tão falsa que estava escrito nas costas C. Ronaldo, não só Ronaldo. Ninguém entendia nada. Uma mulher até perguntou para mim: você foi campeão do quê, menino?"

O hábito de fugir da escola para ver o Manchester persiste até hoje. A faculdade onde estuda tem aulas nas manhãs de sábado. Mas Filipy só aparece por lá quando os Red Devils não têm jogo.

"Sorte que tenho um professor que gosta bastante de futebol, entende o que eu faço e perdoa as minhas faltas. Se não, eu não me formava", diverte-se.

Até mesmo a carreira de Filipy foi escolhida pensando na sua paixão clubística. Ele queria ser jogador e chegou a fazer testes no Náutico, mas uma grave contusão quando tinha 16 anos acabou com esse sonho. Veio então a épica conversa com sua mãe.

"Falei que queria estudar alguma coisa que me deixasse rico para poder ir à Inglaterra ver os jogos do Manchester. Ela disse que quem fazia direito que ficava bem de vida. Eu não tinha vocação nenhuma, mas entrei nessa. Minhas primeiras causas como advogado serão para pagar a viagem."

Filipy 2

Enquanto não realiza o sonho de conhecer Old Trafford, o torcedor de Itacuruba dedica boa parte do seu dia ao Manchester. Agora que tem TV a cabo e internet em casa, ele acompanha os jogos do time adulto, do sub-21, do sub-18 e ainda escreve para um site brasileiro de torcedores que é reconhecido pelo clube, o ManUtdBR.

"Nem sobra tempo para o Vasco e o Santa Cruz, os outros times que eu gosto". Culpa daquelas fitas de VHS que permitiram a Filipy virar um torcedor do Manchester United.


A seção "Torcedores" é publicada semanalmente e traz histórias de brasileiros que torcem para clubes de outros países. Se você é apaixonado por um time estrangeiro e quer ter seu caso publicado, escreva para rafaelmdosreis@gmail.com

Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.