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Rafael Reis

Copa do Mundo com 40 seleções até faz sentido, mas não é uma boa

Rafael Reis

27/02/2016 07h20

Aubameyang, o vice-artilheiro do Campeonato Alemão, joga pelo Gabão. Alaba, um dos melhores jogadores de defesa do mundo, defende a Áustria. Bale, estrela de primeira grandeza no Real Madrid, veste a camisa de País de Gales.

Apesar de contarem com astros da elite do futebol, as três seleções citadas acima não conseguiram disputar sequer uma Copa do Mundo neste século.

A globalização das últimas décadas e a abertura dos principais mercados do planeta para um número ilimitado de estrangeiros fizeram com que a nacionalidade deixasse de ter peso na distribuição de talento para chutar uma bola. Há jogador bom em quase todo canto.

Vista assim, a ampliação no número de participantes da Copa do Mundo até parece uma boa ideia.

Mas a principal proposta apresentada pelo novo presidente da Fifa, Gianni Infantino, eleito na sexta-feira, só é legal no papel.

Infantino

O suíço, secretário-geral da Uefa na gestão Michel Platini, conquistou parte dos seus eleitores defendendo que o Mundial passe a ter 40 seleções a partir de 2026.

De acordo com Infantino, a medida daria a "mais oito países a possibilidade de aproveitar a febre da Copa do Mundo de uma forma passional".

O problema é quem ficaria com essas oito novas vagas no Mundial. Se elas realmente fossem para as melhores seleções que hoje estão de fora da festa, tudo bem.

Prometer mais gente na Copa foi a forma encontrada pelo suíço, que desde o início da candidatura sofria com o estigma de eurocêntrico, para conquistar a periferia da bola e derrotar candidatos estabelecidos no mundo árabe.

A proposta do suíço prevê que América do Sul e Europa, as confederações com melhor futebol,  ganhariam apenas uma das oito novas vagas (para os europeus). Na prática, seis dos outros sete lugares criados por ele iriam para representantes dos outros continentes. E haveria ainda uma vaga por "critérios técnicos".

Isso significa mais equipes fracas da Ásia (alguém já pensou na China), novos figurantes das Américas Central e do Norte e uma vaga cativa para Oceania (Nova Zelândia, Taiti ou Samoas da vida) no Mundial. Ou seja, uma queda no nível técnico da competição.

Sem dúvida nenhuma, é democrático e super positivo para o desenvolvimento do futebol como esporte global. Mas será que é legal para o espetáculo e para os torcedores da Copa?

Além disso, fazer um Mundial com 40 seleções quebraria a perfeição matemática que a competição tem hoje.

Com 32 times, a fórmula de disputa é simples. Oito grupos com quatro equipes, classificam-se as duas melhores de cada chave e, a partir daí, dá-lhe mata-matas.

As oito seleções a mais podem restaurar a classificação por índice técnico (melhores terceiros colocados ou até segundos de cada grupo avançam) vigente até 1994, complicando a compreensão da classificação pelos torcedores eventuais e mais jovens do futebol.

Ou fazer com que o Mundial passe a ter oito seleções folgando a cada rodada da primeira fase (oito grupos com cinco times cada), ideia que obrigaria o torneio a ter mais datas e espremeria ainda mais o já apertado calendário do futebol internacional.

Por isso, Infantino, segue meu apelo: se existe algo na Fifa que já funcionava bem era a Copa do Mundo. Então, mude todo o resto, porque isso sim é necessário. E deixe ela em paz.

Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.