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Rafael Reis

Pelo direito de torcer para um time estrangeiro

Rafael Reis

16/01/2016 07h40

Nasci em uma cidade de 15 mil habitantes, sem qualquer vestígio de futebol profissional.

Meus amigos de infância torcem todos para times cujas sedes estão a pelo menos 530 km de distância. Alguns deles jamais conseguiram ver seus ídolos de perto.

São torcedores que conheceram a paixão do futebol pela televisão, repetindo o fenômeno dos inúmeros santistas e flamenguistas espalhados pelos Brasil graças às transmissões de rádio nos anos 1950 e 1960.

Não é por viverem longe das sedes dos seus clubes que eles são menos torcedores que aqueles que batem ponto semanalmente nos estádios.

E, se isso vale para um time de outra cidade ou estado, por que haveria de ser diferente para uma equipe de outro país?

Esqueça o preconceito e ignore as piadas que possa ouvir por essa escolha.

Você tem sim todo o direito do mundo de dividir seu coração entre o Corinthians e o Barcelona ou entre o Botafogo e o Bayern de Munique. Ou ainda, de torcer apenas para um clube estrangeiro.

Se pensarmos friamente, é até natural que isso aconteça. Não à toa, vemos cada dia mais crianças e adolescentes andando pelas ruas com camisas gringas.

Os times de primeiro escalão da Europa, como o Barça, o Bayern, o Real Madrid, a Juventus e o Arsenal, costumam ter todos (ou praticamente todos) seus jogos transmitidos pela TV no Brasil.

Nenhum time brasileiro tem tanta exposição televisiva quanto esses gigantes, nem Flamengo ou Corinthians… a menos que você desembolse um dinheiro extra e compre pacotes de pay-per-view.

Além disso, os maiores craques do planeta atuam bem longe do Brasil. E caso surja um grande jogador no seu time nacional, pode ter certeza que em breve ele irá para o exterior.

A qualidade do futebol jogado lá fora e a maior presença na mídia (não só TV, mas também computadores e games) são as ferramentas da globalização da torcida de futebol.

Os mais saudosistas ainda dirão que a paixão sentida por um time estrangeiro nunca será a mesma que se tem por uma equipe brasileira. Mas será?

Tenho um amigo que é tão fanático pelo Manchester United que se tornou sócio do clube, com pagamento de anuidade e tudo, mesmo morando do outro lado do Atlântico, e dedicou parte da sua vida a realizar o sonho de conhecer Alex Ferguson.

Aí, eu pergunto. Dá para questionar a paixão de um cara como esse? Isso é ou não é ser torcedor?

É para apresentar paixões como essa que o blog inaugura amanhã a sessão "Torcedores". A cada semana, contaremos a história de um brasileiro que se encantou por um time do exterior: seja um grande europeu ou um pequeno da Ásia ou da África.

Afinal, você tem o direito de torcer para o clube que quiser. Não importa de onde ele é.

Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.