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Rafael Reis

Dahoud e Jaddou: como a Síria perdeu suas maiores promessas para a guerra

Rafael Reis

23/11/2015 07h20

Mahmoud Dahoud tinha apenas dez meses quando sua família, preocupada com o futuro e com medo da guerra, decidiu fugir na Síria e se refugiar na Alemanha.

Dezenove anos depois, o meia do Borussia Mönchengladbach é uma das principais revelações da temporada 2015/16 da Bundesliga, já acumula jogos como titular na Liga dos Campeões e defende a equipe sub-20 da Alemanha.

O caso de Dahoud não é o único. Duas décadas depois da fuga da família do meia para o exterior, a Síria está novamente em guerra.

Dahoud

Graças ao conflito entre as forças do presidente Bashar al-Assad e de seus opositores e ao crescimento do grupo terrorista Estado Islâmico dentro do seu território, o país virou um produtor de refugiados de guerra.

Só nos últimos quatro anos, estima-se que mais de 4 milhões de sírios foram para o exterior em busca de um recomeço. O número tende a aumentar com o fortalecimento dos bombardeios feitos por França e Rússia contra bases do Estados Islâmico.

Mohammed Jaddou, 17, é um desses milhões de refugiados. Considerado um dos melhores jogadores de sua idade no continente asiático e capitão da seleção síria na inédita classificação para o Mundial sub-17 deste ano, ele decidiu nem disputar a competição no Chile.

Antes mesmo do Mundial, a melhor vitrine que poderia ter para sua carreira, ele achou que era hora de abandonar sua terra-natal. A razão foi uma só: sobrevivência. A decisão foi tomada depois da morte do seu melhor amigo e companheiro de quarto por um morteiro.

"Quando saíamos do nosso campo de treinamento, éramos ameaçados pela morte, corríamos risco de ser acertado por um tiro ou por um míssil. Nosso campo foi bombardeado algumas vezes", disse, ao "New York Times".

Assim como Dahoud, Jaddou encontrou abrigo na Alemanha. Atualmente, ele treina no F. V. Ravensburg, que disputa o equivalente à quinta divisão local. A transferência para um clube maior é apenas uma mera questão de tempo.

Sem sua principal promessa, a Síria fez péssima campanha no Mundial sub-17. A equipe asiática foi eliminada na primeira fase, depois de duas goleadas e um empate com a Nova Zelândia.

Dahoud e Jaddou: dois exemplos de talentos que a Síria perdeu para a guerra e o terrorismo. E eles não são os únicos.

Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.