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Rafael Reis

A Albânia saiu à caça de reforços pelo mundo. Agora, está na Eurocopa

Rafael Reis

10/11/2015 06h20

O zagueiro Berat Djimsiti é natural de Zurique, morou durante os 22 anos de sua vida na mesma cidade, passou por todas as seleções de base da Suíça e defendia o país onde nasceu até o ano passado.

Foi dele um dos gols da vitória por 3 a 0 sobre a Armênia, em outubro, que deu à Albânia inédita classificação para a Eurocopa. Mas ele não era suíço?

Era, mas não é mais. Aliás, são histórias como a de Djimsiti que revolucionaram o futebol da Albânia e permitiriam que sua seleção passasse por uma meteórica transformação: de saco de pancadas a participante da fase final do torneio continental.

"Trabalhamos muito nos últimos quatro anos. Fizemos um trabalho muito importante de garimpagem pelo mundo todo procurando alguns novos jogadores albaneses. Seguimos 154 atletas e listamos 65 convocáveis", explica o técnico Gianni de Biasi.

Albania

O treinador italiano, ex-Torino e Udinese, liderou as buscas por jogadores aptos a defender a Albânia e que aceitassem modificar sua nacionalidade no futebol.

E ele encontrou material farto espalhado pelo mundo, principalmente na Europa.

Por se tratar de um país pobre, a Albânia tem altos índices de emigração. Em um passado não muito distante, havia mais de 600 mil albaneses morando apenas na Grécia.

Além disso, as guerras ampliaram a diáspora albanesa. Os habitantes do Kosovo, território que declarou independência da Sérvia em 2008 após décadas de conflitos sangrentos, mas que ainda não é reconhecido pela Fifa, são em maioria de origem albanesa e também podem defender a seleção.

Graças a esse recrutamento feito por De Biasi e sua comissão técnica, os estrangeiros hoje são maioria na equipe da Albânia. Dos 25 convocados para os amistosos de novembro, 13 nasceram entre outros países.

Alguns principais nomes da seleção fazem parte desta lista. O goleiro Etrit Berisha, da Lazio (ITA), é de Kosovo e só estreou na equipe nacional com o técnico italiano. Já o zagueiro Mergim Mavraj, do Colônia (ALE), nasceu e se criou na Alemanha até receber o convite albanês.

O time também recebeu nos últimos quatro anos reforços vindos de Suíça, Macedônia e Noruega.

E os estrangeiros certamente elevaram bastante o nível da seleção. A Albânia, que seis anos atrás ocupava a 96ª colocação no ranking da Fifa, agora é a 36ª na lista, sua melhor posição na história. Está à frente de Polônia, Costa Rica, Japão e Nigéria, para ficar só com alguns.

"A população da Albânia está orgulhosa da gente. Somos guerreiros e, é graças ao nosso espírito, que conseguimos fazer frente a outras seleções", diz De Biasi.

Para obter vaga na Eurocopa, os albaneses tiveram de superar Dinamarca e Sérvia, forças muito mais tradicionais no futebol europeu. Segundos colocados do Grupo I, só ficaram atrás de Portugal na classificação.

"O futebol está mudando. Não há mais uma grande diferença entre os times. A evolução está só começando. Todos os países passaram a investir na formação de jogadores e na busca por atletas aptos a jogar pela seleção. Por isso, estão subindo de nível."

A Euro-2016, aliás, estará repleta de caras novas. Além da Albânia, os poucos usuais Islândia, Irlanda do Norte e Gales também vão disputar o torneio.

Os últimos quatro classificados serão conhecidos até a próxima terça. Ucrânia x Eslovênia, Suécia x Dinamarca, Bósnia x Irlanda e Noruega x Hungria são os confrontos da repescagem.

Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.